quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Desmame

“... a experiência da amamentação ao peito levada a cabo com êxito constitui uma boa base para a vida. Fornece sonhos mais férteis e habilita as pessoas a aceitarem riscos.

Mas tudo que é bom deve chegar ao fim, como é costume dizer. Faz parte da coisa boa que ela acabe.”
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“No desmame, a finalidade é realmente usar a crescente capacidade da criança para livrar-se das coisas e fazer com que a perda do seio materno não seja apenas uma questão de acaso.”
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(O desmame) “Inclui o processo gradual de demolição de ilusões, que é uma parte da tarefa dos pais.”

A Criança e Seu Mundo - D. W. Winnicott

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Deixo um pouco de lado minhas gaiatices literárias para falar de um assunto “técnico” da maternidade. Lara está com 11 meses e meio, e estamos começando agora o processo de desmame.

Sei que tem muita mulher grávida que vem ao Casaquinho e não tem a menor noção de como será a sua vida nos próximos meses (como eu também não tinha, e ainda não tenho, porque um bebê muda no exato momento em que a gente pensa que está aprendendo a lidar com ele).

Então, o que dizer da experiência da amamentação?

Cada mulher tem a sua, óbvio, e vou falar da minha – com intimidade e sem rodeios, como penso que devem ser tratados esses assuntos. Não acho, contudo, que “sem rodeios” dispense delicadeza. Ao contrário; tudo em maternidade é experiência direta e, por isso mesmo, extremamente delicada.

O início foi doloroso. Tive ótima assistência de uma enfermeira simpática na maternidade, que me ensinou (e desconfio que também à Lara) os primeiros passos do contato do bebê com o seio. Na verdade eu senti que esse contato é mão dupla: parece que o seio, de uma hora para outra, ganha ares de indivíduo.

E como doíam os meus pobres indivíduos no começo. A Lara pegava o bico do seio de modo certinho, mas, às vezes, não abocanhava toda a auréola (como deve ser), e aí a dor era inevitável. Mas não insuportável. O que me salvou foi a pomada Lancinoh, recomendada pelo obstetra, da qual já falei aqui algumas vezes. Mágica.

Cerca de oito semanas depois, tudo passou e a amamentação virou apenas uma mistura de “aluguel” (você fica presa de três em três horas) e prazer do contato íntimo com o bebê. Quando a Lara fez 4 meses, passou para intervalos de 4 horas. E assim foi por um bom tempo.

Cada mulher decide quando e como vai desmamar – naturalmente, se tudo estiver correndo bem. No meu caso, o pediatra da Lara sugeriu que fizéssemos perto do primeiro aniversário dela e eu concordei. Estamos iniciando o processo de forma gradativa e ela não tem apresentado dificuldade alguma.

Vou explicar mais ou menos como foi/está sendo.

- Aos 10 meses de idade, ela já estava mamando só três vezes ao dia. (Às 7h da manhã, às 2h da tarde e às 8h da noite).

- Quando fez 11 meses, decidimos tirar a mamada das 2h da tarde e, em vez disso, iniciar uma vitamina de leite Ninho 1+ batido com fruta no meio da tarde. Foi a primeira vez que ela bebeu leite sem ser o meu. Adorou e não teve nenhum problema com a mamadeira.

- Agora, com 11 meses e meio, vamos também tirar a mamada da noite, introduzindo no lugar dela o Nestogeno ou Nan2 (leite em pó).

- Por enquanto, vai ficar só com a mamada da manhã, assim que acorda. Essa eu ainda não sei quando vou tirar, mas certamente será nos próximos meses.

A seguir, cenas dos próximos capítulos. Se alguém tiver alguma dúvida levante o mouse!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Aprendendo a falar

Filhota, cante com a mamãe. “A-tirei o pau no ga-to-to”... E fico esperando que ela repita o som do meu “to-to”, mas ela só tem uma idéia fixa na cabeça:

- Pa-pai.

Sim, filha, muito bonitinho, você já sabe falar papai. Agora vamos aprender essa musiquinha, tá bem? Aaaaaa-tirei o pau no ga-to-to!

- Pa-pai.

Mas o ga-to-to...

- Pa-pai.

Não morreu-reu-reu...

- Pa-pai.

Querida, preste atenção. Vamos entrar numa parte muito importante da canção, a Dona Chica. Se você repetir “papai”, não vai ficar nem bem. Imagina, Dona-Chica-papai, não combina. Então a mamãe vai puxar a Dona Chica-ca-ca bem devagarinho, e você olha fixo para a boca da mamãe. É só fazer igual. Vai firme que eu garanto.

Enchi os pulmões e caprichei no Dona Chica, mas ela ouviu “ca-ca” e repetiu, feliz da vida:

- Pa-pai!

Que seja, fui adiante. Admirou-se-se...

- Xxxsssszzzz... Ssszzxx...

Benzadeus! Uma consoante desafiadora quebrou a rotina. Esforçou-se para fazer o som do “s”, caprichou, babou, sibilou, soprou, é isso aí, essa é a minha menina!

- Szzzzrrrrxxxx! Sssxxxsshhh!

Nada como uma consoante cheia de curvas para desestabilizar o conhecimento. Agora ela tem um chiado a mais no vocabulário, uma função inovadora para a língua, um exercício inédito para o ouvido. Arregalou bem os olhos.

- Xxxsssszzzz... Ssszzxx!!!

Cristo, e não parava mais. Parecia que me dizia:

- Ótimo, agora que eu aprendi esse chiado esquisito, onde é que eu ponho? Para que serve isso? E principalmente: onde é que eu desligo? Ssssxxxxzz! Ssssszzz!

Calma, filha, mamãe vai arrumar umas vogais bem bacanas para você escorregar com essa nova consoante. O sapo sapeca suava o sapato saía sorrindo sumia no sítio... Viu só?

- Papai. Sssszzz! Ssssshhh! Papai.

Certo, entendi.

- Queridooooo, corre aqui que essa menina engoliu um esse!!!

Tudo culpa da Dona Chica, aquela cretina.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Querido Deus



Querido Deus,

ela já vai fazer um ano. O senhor está me ouvindo? Ela já vai fazer um ano!

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Ontem mesmo estava na minha barriga. Eu disse ontem mesmo, mesmo. O senhor deve ter ouvido falar muito em gravidez, mas, na prática, estou certa de que não sabe o que é.

Quer um resuminho básico da tarefa? Lá vai:
A GENTE NÃO DESCANSA NO SÉTIMO DIA. NEM NO OITAVO, NEM NO NONO.

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Querido Deus,

muito obrigada. Esta menina está engatinhando pelo chão da minha casa inteira, a bufar coisas encantadoramente ininteligíveis. E a gente achando lindo, imagine o senhor. Imagine o senhor!

(O senhor imagina muito aí em cima? Eu, se fosse o senhor, ficaria imaginando direto).

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Querido Deus,

quando diziam que ter filho é a melhor coisa do mundo, não era mentira. O senhor, que não é bobo nem nada, pariu logo uma humanidade inteira.

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Mas o senhor, que não é bobo nem nada, descansou no sétimo dia.

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Querido Deus,

dá um trabalho danado. Agora ela quer inventar de subir em tudo – armários, estantes, sandálias, joelhos alheios, cortinas, mesas, cadeiras etc.

Mas o senhor sabe do que estou falando – afinal, o seu filho mal tinha aprendido a andar sobre as águas e já inventou de subir aos céus. Essas crianças são fogo.

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Querido Deus,

como eu já disse, ela vai fazer um ano. Estou um pouco preocupada porque ela ainda não sabe soprar. O senhor se incomodaria se eu fizesse o pedido e soprasse a velinha no lugar dela?

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O pedido: que o senhor cuide muito bem da minha pequena. Se não der pessoalmente, mande alguém no lugar. A gente aqui reconhece e agradece (quando chegar a hora, prometo que pessoalmente).

Por enquanto vai por e-mail mesmo. O senhor compreende, muito o que fazer por aqui ainda.

Ass: Mãe (tudo igual, só muda o e-mail).

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Pérolas

Duas pérolas da Adriana Falcão, em seu adorável Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento (Ed. Planeta):

UMBIGO
Por onde mãe começa a fazer
tudo pelo filho aproveitando
a oportunidade dele ainda
estar dentro dela.

FILHO
Serzinho adorável e todo seu que um
dia cresce e passa a ser dele próprio.