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sexta-feira, 25 de abril de 2008

Olha quem está andando!

24 de abril de 2008

Filha, hoje você andou pela primeira vez. E a mamãe soube pelo interfone.

- Dona Bíbi, a Lara tá andando.

- Hum.

- Sozinha!

Achei que era exagero da babá e nem desci ao play. Ok, está andando, dois ou três passinhos, isso eu já vi. Todo mundo viu. Andando sozinha? Como assim, andando sozinha?

Quer dizer, sem mim?

Imagina. Não tinha um cordão que nos ligava até outro dia? Eu lembro, estava aqui limpando seu umbigo com álcool, foi ontem mesmo, ainda sinto o cheirinho.

- Pô, mãe. Precisava botar esse papo nojento de umbigo no meio do texto?

Você nem bem começou a andar sozinha e já está dando pitaco no meu texto, com essa cara de quem tem 14 anos e já pensa que tem 18. Pois saiba que eu, na sua idade...

- Mãããe! Alooo-ou! Coisa mais careta essa conversa de “eu, na sua idade”. Não se usa mais isso, sabia? Aliás, não se usa nem a palavra careta. Mas isso eu dou desconto, porque esse texto foi escrito no seu tempo, e...

No meu tempo? Como assim, no meu tempo? Desde que o médico cortou aquele bendito cordão, a sua quilometragem está rodando junto, viu? Portanto, é seu tempo também.

- Tá, eu digo no tempo em que você era jovem. Ops! Mais jovem.

Sabe o que te salva?

- Ser sua filha querida do coração?

Não. O que te salva é que você diz essas coisas dentro da minha imaginação.

- E se eu, algum dia, disser do lado de fora?

Você não seja doida. Que eu te engulo e começo tudo de novo, dentro da minha barriga.

- Ah, mãe. Justo agora que eu comecei a andar sozinha?

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Meu bebê tem um ano



Você não vai se lembrar, filha, mas a festa do seu primeiro aninho bombou. Olha a foto do bolo aí em cima. Vovó Wilma fez tudo com as próprias mãos – inclusive o bolo, sabia? E o comentário geral foi: como ela está se divertindo!

Claro que a vovó estava se divertindo. Mas o comentário era sobre você.

Ficou linda naquele vestido “longuinho” branco com flores bordadas. Mamãe comprou o sapatinho de última hora, não era o mais bonito do mundo, mas no seu pé ficou uma jóia. Aliás, duas. Três com o seu sorriso. Quatro com a sua alegria. Cinco, sete, quinze, treze, oito.

(Calma, você ainda vai aprender a contar, e depois vai aprender como é legal quando a gente esquece a ordem dos números porque bate uma onda de alegria e bagunça tudo. Essa parte do bagunça tudo você já está começando a pegar rápido, tenho reparado).


Kiu – da lei da gravidade, não tão grave assim

Filha, hoje você disse “kiu” pela primeira vez. Acho que temos que conversar um pouco a respeito. Dizer kiu é muito importante na vida de uma pequena pessoa. Das grandes também.

A mamãe presenciou e vai registrar aqui o momento para não esquecer: você atirou um carrinho no chão e disse: kiu! Apontou para ele e repetiu: kiu!

Sim, o carrinho caiu. Quando as coisas voam da nossa mão e batem no chão é kiu. Quando uma bolinha de algodão escorrega do trocador, por exemplo, a gente pode dizer que é um kiu macio. Quando é um copo de vidro, kiu e quebrou. Não faz mal, é só não pisar em cima e chamar logo um adulto.

Um detalhezinho que você pode ainda nem ter percebido: pessoas também kiu. Mamãe já kiu de bicicleta uma vez e tem a cicatriz até hoje. Você também já kiu várias vezes, sabia? Até chorou, mas foi só o susto. Kiu, mas nem doeu.

Uma coisa o seu tio sempre diz: avião não cai, ele é derrubado. Seu tio é piloto, mas graças a Deus não exerce a profissão (mamãe ficaria eternamente preocupada com o kiu dele). O que ele quer dizer com isso é que aviões não foram feitos para cair. Se não houver nenhum erro, seguem voando até pousarem confortavelmente em algum aeroporto grande e liso.

Isto posto (mamãe envereda por uns termos esquisitos às vezes, desculpe), deve ficar claro o seguinte: kiu é normal, é a lei da gravidade. Todos os corpos – e os pedaços, e os cacos, e os punhados e até os farelos do biscoito de maisena – são atraídos loucamente por uma coisa reta e dura chamada chão. Até dizem: “do chão não passa”. Isso significa que a lei da gravidade, na verdade, não é tão grave assim.

Quando você joga alguma coisa no chão, dizer kiu é relativo. Claro que kiu, mas foi porque você quis. Isso pode amenizar o olhar perdido e sensação de injustiça, afinal, já viu jogador de basquete ficar triste porque a bola kiu na cesta? Só se for do outro time.

O que a mamãe quer dizer com essa conversa toda é que existem inúmeros tipos de kiu, e nem todos são tristes. E, principalmente: tem coisa que jamais kiu. Você é milha filha – e podem mandar a lei da gravidade com o promotor mais engravatado e o juiz mais gravíssimo que houver, ninguém nunca vai conseguir fazer isso kiu. É nosso e ninguém tasca.

A alegria da família na sua festa de um aninho, o seu sorriso faceiro e sapeca diante do bolo fazendo hummmm, as palminhas que você batia no colo do seu pai e as gracinhas que você fazia provocando risos gerais – tudo isso tem um selo enorme escrito assim: “eternamente à prova de kiu”.

E o resto todo pode kiu à vontade, é só a gente não pisar em cima e chamar logo um adulto.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Lara Já

Lara já tem quase 10 meses, e vamos construindo avanços na comunicação que ultrapassam todas as minhas expectativas de mãe coruja. Não que eu seja exagerada ou exibida, imagina. Acontece que é tudo muito rápido, e a palavrinha “já” acaba escapando da minha boca colada ao nome dela. Sempre. Toda frase começa com Lara e continua com já. Podia ser seu nome do meio: Lara Já.

Lara Já diz “mã mã” (embora ainda não ligue o nome à pessoa). Há quem ache que isso é modéstia minha, mas eu desconfio que o restinho da minha modéstia foi embora junto com o líquido amniótico e, mesmo assim, sigo convicta do caráter genérico desse “mã mã”.

Lara Já chama atenção dos passantes na rua, por sua própria iniciativa. Não pode ver ninguém de costas. Trata logo de puxar conversa com a nuca alheia, geralmente duas oitavas acima do tom habitual dos seres humanos, de modo que acaba confiscando olhares e risinhos simpáticos em frações de segundo. (Eu finjo que estou amarrando os calçados, já que não consigo fazer aquela cara orgulhosa de “fui eu que fiz”).

Lara Já bate palminhas. Juro! Só tem um pequeno detalhe: ela bate com uma mão fechada e a outra aberta. O resultado final do gesto pode ser interpretado de forma ofensiva pela oposição. (Nada contra, sou uma mãe democrática).

Lara Já rasteja pela casa dando gritinhos entusiasmados, enfia o dedinho em qualquer buraco ou ranhura que encontrar, puxa para si um pedaço do mosquiteiro quando está entediada no berço (e come), rasga revistas de moda (indignada com a esqualidez das manequins – “essa gente não tem mamadeira?”), faz a maior festa quando alguém chega em casa, devora um pratão de sopa em alguns minutos...

Por fim: Lara Já dá tchauzinho em cinco línguas. Fluentemente!

**

Adeus, cabelão

Cortei os cabelos para ficar com cara de mãe moderna, elegante, descolada (ainda se usa esse termo, ou já descolou de vez?). Muita gente elogiou. Menos alguns.

- Mas o que houve com aquele seu cabelão, Jesus Cristo???

Minha manicure religiosa estranhou. Não sou boa em pedir elogio, mas me esforcei, antes que a carinha dela me desse medo de arder no inferno das mulheres arrependidas.

- E aí? Não ficou legal? – Arrisquei.

- Sem dúvida é muuuito mais prático!

E moeu minha cutícula com aquele alicate assassino.