Parto sem dor
Eu estava em dúvida entre parto normal ou cesárea. Minha mãe teve dois filhos (gosto quando ela diz “quando eu te ganhei”, adoro o ganhei), ambos de parto normal, e ela sempre se referiu a isso como uma dor perfeitamente suportável, nada de mais. Mas eu sei que não é assim para todas.
Conversando com o meu (ótimo) obstetra e me confessando absolutamente ignorante nos detalhes técnicos dos tipos de parto, me lembro de ter ouvido dele:
- Você vai ter o que quiser, do modo como quiser. E essa história de parto normal com gritaria e sangue no teto é coisa do passado, viu? Hoje em dia não tem nada de mais.
No fim eu não pude escolher e tive de fazer cesariana, mas tudo correu tão naturalmente que eu não diria se tratar de um parto “anormal”. Nem mesmo a recuperação – que todo mundo dizia “óóó!” – eu achei tão ruim assim.
Portanto, não torço para time algum, não tenho convicções a respeito e nem quero ter. Ponto, parágrafo.
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Chamou minha atenção essa entrevista com o anestesista americano Gilbert Grant, na Veja dessa semana. O médico tem praticado há 15 anos o seguinte método: antestesia peridural em doses progressivas, ao longo de todo o trabalho de parto. Normal. É o parto sem dor e trauma, garante.
Aqui no Brasil essa prática é rara; em alguns casos, por preconceito ou fatores culturais e até religiosos. Mas também pode ser falta de acesso à informação: o próprio médico admite que, até três anos atrás, acreditava-se que a mulher anestesiada com menos de 4 cm de dilatação poderia ter problemas com a progressão do parto. Hoje, sabe-se que pode ocorrer justo o contrário – e a anestesia estimular a dilatação. Dessa eu não sabia.
A matéria é muito interessante e merece ser lida. Ele explica sobre a evolução da anestesia peridural (tira a dor, mas não a capacidade da mulher de fazer força para o bebê sair – se aplicada na dosagem certa para o método), fala sobre os efeitos negativos do sofrimento no parto e afirma que não deixa nenhuma mulher que ele conheça e ame dar à luz sem anestesia, porque já presenciou milhares de partos e sabe bem a diferença.
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Bom para refletir: “Recentemente, uma paciente minha tentou o parto normal durante horas, inclusive com peridural a partir de certo ponto, mas não conseguiu e foi preparada para a cesariana. Quando perguntei como se sentia, respondeu: ‘Eu sou um fracasso’. Ela estava a minutos de ter um bebê lindo e não conseguia viver a beleza do momento pelo excesso de rigor consigo mesma.”
Gilbert Grant, médico