Dias nublados
Filhota,
o domingo amanheceu nublado e a mamãe também. Como explicar? Não é triste. Nem dor. Não é vermelho nem rosa. Não é doce, gelado, pontiagudo, claríssimo, pesado, grito, riso, acidez, palavrão.
Às vezes, bate um vento por dentro e algumas palavras que a gente saberia dizer de cor e salteado resolvem brincar de pique-esconde. Um simples “bom dia” vira bom... bom... bom das quantas, mesmo? Bom por onde? Bom quando? Mas continua sendo bom, só esqueceu o quê.
Você também vai acordar nublada uns dias. Uma coisa bacana de saber é que as palavras fogem , somem e se procuram umas às outras por conta própria, sem que a gente precise fazer muito esforço para achá-las depois. Sentir-se à vontade com as suas palavras é sempre recomendável, ainda que uma ou outra pareça mais implicante, tipo esta: crítica.
Quando você amanhecer nublada e a autocrítica vier espetar suas nuvens querendo fazer chover, não precisa brigar nem ameaçar contar para a mãe dela. Tem gente que dirá: ignore! E você até pode. Mas uma outra possibilidade é escutar atentamente, depois oferecer um docinho e contar borboletas na varanda. Ela se distrai num instante, e você volta para os seus afazeres sem maiores trovoadas.
Se não funcionar, aí você conta para a mãe dela mesmo.
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