sábado, 31 de outubro de 2009

Querer bem perto

Filha,

amigo é uma pessoa que você quer bem. Querer bem é, geralmente, querer bem perto. Mas, no caso dos amigos e amigas, morar perto não é condição para continuar se querendo bem, nem mesmo para querer bem perto.

Mas como "querer bem perto" estando longe?

Uma solução é dedicar pensamentos. Sabe aquele chavão do rádio, "dedique uma canção a quem você ama"? Meu Deus, mas o que estou dizendo?! Você nem sabe que existe rádio, e eu aqui, com meus 127 anos de idade, explicando amizade à distância para uma geração que vai confundir mensagem SMS com fax, telegrama... e toda essa velharia precária do tempo da mamãe. Tá, voltemos à amizade.

Dedicar pensamento é aproveitar a carona de alguma lembrança que você tem com aquela pessoa e "viajar", no tempo e no espaço, fazendo de conta que o acontecimento em questão está se passando outra vez. Aqui, agora. Não como num filme, a que você só assiste, mas como vida mesmo. Participando.

Sendo ainda mais clara: pegue o amigo (ou amiga) que está longe, aperte bem apertadinho, amasse se for preciso, e jogue lá dentro do seu pensamento. Embole tudo em uma massa, o passado e o presente - e, de preferência, o futuro também. Assim, você lembra (o passado), sorri agora (enquanto está lembrando) e, de quebra, planeja reencontrar o sujeito ou a sujeita. Acrescente saudade a gosto, gargalhadas à vontade e não esqueça o mais importante: mantenha sempre abertas as possibilidades.

Amizade é um negócio que dura e não precisa guardar na geladeira. Aliás, nem deve. Matenha à temperatura ambiente que é mais garantido. De vez em quando, faça contato (não vou citar aqui os meios para não correr o risco desta carta ficar datada).

Por falar em contato, olha o que chegou hoje para você. É de uma amiga da mamãe; de verdade ela vive longe, mas tenho uma versão de bolso e levo sempre comigo. Não pesa nada, custa baratinho... E me dá cada conselho ótimo!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Rápidas... como as crianças são

Querendo desenhar mais, mas não encontrando espaço: “Mamãe, me dá um papel seco?” [filha em gotas].

Chegando em casa, depois de ter passado um dia com os avós: “Sai, mamãe, eu gosto mais do papai!” [kinder ovo, espinho].

Enquanto trabalho: “Oi, mamãe!”, subindo na cama: “Olha, mamãe!”, pulando na cama: “Vem, mamãe!” [pingue-pongue].

Querendo usar batom: “Já sou adulta!”, querendo atenção: “Olha como eu sou um bebezinho!”, ameaçando comer sem talheres: “Au, au! Sou um cachorrinho!” [repertório de si mesma].

Calçando os sapatos: “Já sei fazer isso so-zi-nha!”, alguns segundos depois: “Me ajudaaaaa!”, um minuto depois: “Me deixaaaaa!”, dois minutos depois: “Posso ficar só de meias?” [querer-poder-conseguir].

Puxando conversa: "Que horas são, mamãe?". Dez e meia. "Que caro!!!" [time is money].

Com o dedo na minha pálpebra: “Mamãe, tu é beeem velhinha?” [agora fiquei].

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Em atraso

Eu não viajei, não! Estou por aqui, finalizando um trabalho que eu já deveria ter finalizado. E, como sei que já deveria ter postado no blog, fiquei com vergonha de aparecer antes e deixar um "oi" corrido. Bah.

***
Alou?

Filhota, um "oi" corrido é melhor que nada, viu? A pessoa fica preocupada! Você não liga, não dá notícias! Desde que decidiu estudar esse tal de... (preencher lacuna), tem sido assim. E quem é que segura o coração do seu pai, me diz? Me diz?

Alou?

Como é que eu agora vou defender o... (preencher lacuna), se o coitado já leva má fama só pela pretensão a genro, imagina só quem vai levar a culpa pelo seu sumiço? Não tem desculpa, minha filha. Mandasse uma mensagem de texto. Como assim, tendinite? Eu falei, contrabaixo não é instrumento para menina.

Sim, querida, mas eu tinha 16 anos!
23, dá no mesmo.

Tá bem. Mas não deixa de dar notícias! E olha, tá fazendo muito frio aí? Leve um casaqui...
ALOU? ALOU???
***

Ai, faz tão bem desabafar que eu aproveito e desabafo no presente, no passado e no futuro, tudo junto.
Põe na conta.

sábado, 10 de outubro de 2009

Três perguntinhas (para quem tiver saco)

Queria fazer uma pequena enquete com as pessoas que passam por aqui, mas sempre fico com vergonha de fuxicar a vida dos outros.

Anyway, como a blogosfera virou um grande fuxicamento-espontâneo-de-utilidade-pública, e trocamos experiências como se estivéssemos dividindo um chá das cinco (Aff! Como sou antiga!), lanço aqui três perguntinhas, e quem tiver saco pode responder ali nos comentários. Beijos e obrigada!

1. Onde você mora?

2. É gestante, mãe, pai, avó, avô, tentante ou nada disso?

3. Qual é a sua principal atividade? (Quis dizer profissional, mas também valem respostas bem humoradas para quem não quiser dizer).

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Quando eu estava grávida

Há muitas moças grávidas passando por aqui, e outras querendo engravidar. Revisando material "antigo", encontrei esse trechinho do blog-no-meu-tempo-de-grávida, que reproduzo abaixo. Era janeiro de 2007 no Rio.

Quase

- Agora estamos na reta final!

O obstetra me olhava arregalado como quem espera qualquer reação. E eu, péssima em providenciar reações – bem como outros embrulhos para presente -, apenas empacotei o susto da iminência do parto numa vogal redonda como a minha barriga:

- Ô!

Estou com 37 semanas completas. Para os leigos: faltam só três. Como a Lara está ótima e não demonstra sinais de incômodo com o seu (meu? já não sei mais) habitat, diz o bom senso que ela deve nos brindar com o primeiro choro só lá pelo dia 22 de fevereiro, quinta-feira após o carnaval. Veremos.

Se estou assustada? Imagina. Preocupada? Tampouco. Dizem que estou até com cara de mãe. Sorrio muito, no fundo me agrada. E só.

Mentira, de madrugada eu entro em pânico.


***

Pois a Lara se antecipou e abriu alas no dia 13, a terça-feira anterior ao carnaval. Não consigo acreditar que escrevi aquele post há quase três anos. Minha vida deu uma cambalhota, mas continuo basicamente igual - felizmente, sem a barriga.

Se estou assustada? Imagina. Preocupada? Tampouco. Dizem que estou até com cara de mãe. Sorrio muito, no fundo me agrada. E só.

Mentira, de madrugada eu entro em pânico.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Birra de criança - como resolver?

Uma espectadora escreveu para o programa de TV contando a seguinte história: estava com o filho no shopping quando o menino se jogou no chão e começou a fazer birra porque queria uma bola. A mãe o deixou ali mesmo e, conforme suas palavras, “foi embora”. 20 minutos depois, anunciaram no microfone que um menino estava perdido, e ela foi buscar o filho. Segundo essa mãe, foi muito difícil “correr esse risco”. Mas concluiu: “foi a última birra da vida dele”.

Quase faço a piadinha infame: "Ainda bem, porque poderia também ter sido a última vida da birra dele". Que bom que eu não fiz a piada.

Agora falando sério, certamente ela não conseguiu conter a birra e partiu para uma solução, como ela mesma define, “de risco”. Fico imaginando que essa mulher deve adotar outras soluções “de risco” na sua vida – e, pelo visto, até agora o saldo tem sido positivo, pelo menos a curto prazo. Resta saber se haverá sempre microfones à disposição para garantir bons desfechos, ou se, algum dia, a opção de resolver a encrenca pelo “susto” vai acabar assustando a própria família, mais do que cumprindo uma função pedagógica supostamente adequada.

Aqui vai uma dica básica da especialista presente no programa: depois de 20 segundos, a criança já não lembra o motivo da própria birra. Então, não adiantará nada argumentar. A solução é sempre conter a birra no início, porque a tendência é virar uma bola de neve quase impossível de se controlar. Como interromper a birra? Distraindo a criança, chamando a atenção dela para outra coisa – imediatamente. Se for necessário, abraçar a criança de modo firme (para conter a birra e, ao mesmo tempo, oferecer a segurança: “eu estou no comando”).

Onde nós estamos?

Para além das questões objetivas de risco e segurança: quando minha filha faz birra, onde eu estou? Certamente, não estou nela. Pode parecer poético dizer que estarei dentro da minha filha, procurando entender seus desejos e perplexidades diante do mundo que se apresenta. Mas isso resulta, na melhor das hipóteses, em piada. Como neste vídeo em que a mãe resolve "dar o troco" no próprio filho.



É engraçado - porque é ridículo, além de ineficiente - nos colocarmos na mesma perspectiva dos nossos filhos. Ela vai fazer três anos e eu, 32. Assim como não é justo exigir dela a maturidade que eu tenho, também é injusto "fazer de conta" que somos a mesma pessoa. Ora, ela precisa de uma mãe! Se eu passar horas explicando que não pode lamber o chão porque é sujo, e mesmo assim ela quiser lamber o chão, e eu continuar argumentando - em vez de simplesmente impedi-la -, isso significa que nós duas estaremos, literalmente, comendo poeira. Até quando?

Até ela bater em uma amiguinha? Até humilhar um empregado? Até querer fumar maconha? E onde nós (pais) estaremos, afinal? Dentro deles não me parece ser um bom lugar.

Por outro lado, não me agrada a ideia de ensinar pelo choque, pelo susto, pela ameaça da minha ausência. Uma criança não se descontrola porque está "de sacanagem" com os pais. Somos um sistema, convivemos dentro da mesma casa - como posso achar que, subitamente, minha filha "recebe uma entidade" estranha e vira um monstrinho que treme e baba? Posso brincar que ela "se transformou", e até sentir isso por um momento, mas não posso, racionalmente, tomar uma decisão que pretenda lhe impor limites oferecendo a seguinte lógica: se a coisa apertar, minha mãe cai fora e eu tenho que me virar no mundo. Uma evolução (desastrosa) desse raciocínio seria: deixa eu ir dando um jeito enquanto sou criança, porque quando eu virar adulta é só fugir assim que surgir uma dificuldade. Nesse caso, a mãe correu para dentro dela própria e deixou que a sorte resolvesse a parada.

Não tenho a resposta certa, mas acho que o nosso lugar não deve ser dentro deles, e também não pode ser tão dentro de nós mesmos. Ideal seria se pudéssemos criar um novo lugar, no meio do caminho, próximo o suficiente para haver empatia e solidariedade, mas distante o suficiente para nos permitir respirar fundo e impor limites e restrições, segundo as regras que nós julgamos ser importantes. E arcar com as consequências.