quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Mamãe puxando ferro

- Há quanto tempo você não freqüenta academia?
- Com regularidade eu nunca freqüentei.

Parecia que eu tinha dito:

- Por baixo dessa pele branquela eu sou verde. À noite, pisco-pisco com motivos natalinos. Vai encarar, fortão?

O professor foi me ajudar na primeira série de musculação. Tudo que ele falava, emendava: “tendeu, amiga?”.

Tendeu, amiga? Aqui são 15kg, pino 7, botão 13 do encosto, regulagem M. Tendeu, miga? Tendeu? Duas repetições de 15. Tendeu, miga?

Tendi foi nada!

Fiquei tonta e saí de lá azul.

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A orelha do amigo fortão é um capítulo à parte. Fiquei procurando o buraquinho por onde deveria passar o som, e olha, foi difícil achar. Nunca tinha visto orelha de lutador tão de perto. Quando dizem couve-flor não é exagero.

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Na esteira, uma senhora de uns 60 anos ajudava a mãe.

- Aqui, mãe. Pode deixar que eu ligo para a senhora. Aperta em “manual”, mãe. Isso. Agora digita o seu peso e dá enter. Aliás, pode deixar que eu digito para a senhora.

Caramba! A velhinha tinha uns 80 anos ou mais. Subiu na esteira equilibrando as perninhas fracas, tinha que ver. Todo mundo olhando, mas disfarçando. Bacanérrimo.

Quando saí da sala, vi a bengala encostada num banco. (!!)

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Quando eu tiver 80 anos, a Lara terá 51.

- Por aqui, mãe. Aperta em “manual”.

- Você viu a orelha daquele professor?

- Fala baixo. Tem que reparar em tudo?

- MAS PARECE UMA COUVE-FLOR!

-Psssst! Menos, mãe. Desculpe, gente. Ela está um pouco impressionada e...

- Falar em couve-flor, minha filha, hoje é dia de feira?

- Mamãe!

- Esse menino ia ganhar um bom dinheiro na feira. Rá rá rá! Filha! Não vai embora, não! Devolve a minha bengala! Como é que eu paro essa geringonça?

Nisso ela já estará pulando a catraca e jurando que nunca mais me leva à academia. (Enfim, livre!)

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Aos 30

Vou fazer 30 anos, então decidi entrar para uma academia dessas com catraca eletrônica e tudo, como manda o figurino. Meu ritual de correr no Aterro do Flamengo é muito bonito, a vista é linda e blá blá blá, acontece que o calor do Rio de Janeiro é simplesmente impraticável a partir de novembro. Correr na rua após as 7h da manhã torna-se um hábito insuportável. E quem dera tivéssemos segurança na cidade para sair à noite.

Assim, me rendi à catraca e ao ar condicionado. Seja o que Deus quiser.

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Exame médico

Na fichinha estava escrito: “tolerância de atraso - 10 minutos”. Pois a médica atrasou meia hora e me atendeu com cara de besouro e poucas palavras. Mandou bufar três vezes (nisso sou boa!), mediu pressão, perguntou sobre as desgraças da família e anunciou, com jeito de quartel:

- Vou te liberar.

Paf! Deu uma carimbada na ficha e esticou a folha na minha barriga. Fui saindo de ré para não tomar mais o tempo dela (que, aliás, foi ela quem tomou de mim).

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Avaliação funcional

Essa avaliação funcional é uma coisa que não recomendo nem ao pior inimigo. O sujeito – com o qual não se tem nenhuma intimidade – fica beliscando os pneus da gente com aquele aparelho ordinário que mede o quanto extrapolamos nos bolos de laranja. Não diz palavra, apenas anota no computador. Tec, tec, tec. Parece que está fazendo orçamento de carpete: medida para cá, medida para lá, tudo muito abstrato e ininteligível... Ora, no final é assoalho!

E eu me sinto meio presunto nessas horas.

- Me vê 200gr daquele sem capa de gordura, por favor. Como assim tá em falta?

Depois, começa a registrar os problemas posturais da pessoa. Ombro esquerdo mais alto que o direito, quadris desalinhados, escoliose, lordose, é dose.

Por último, subo numa bicicleta ergométrica e fico lá aumentando os batimentos cardíacos à medida que ele aumenta a bendita carga. Quando estou francamente ofegante, e já de saco cheio, ele vem com a novidade:

- Tá vendo? Assim vai ser o seu treino. Para começar.

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Mas eu vou fazer 30 anos, de modo que decidi entrar para uma academia dessas com catraca eletrônica e tudo, como manda o figurino.

Vou confessar que, até agora, eu simpatizei mesmo foi com a catraca. Mas a esperança é a última que morre.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Querido diário

Quero deixar bem claro que minha filha é a coisa mais gostosa desse mundo: um bebê tranqüilo, alegre, saudável, etc etc, que me faz muito feliz desde o dia em que deixou meu ventre e veio adoçar nossas vidas com sua incomparável graça.

Isto posto, querido diário, vamos aos fatos. Acordou-me hoje às 6:10 da manhã. Resmungava. Não era exatamente um choro, talvez um chororô, coisinha insistente que não ia nem vinha, barulho que não configurava protesto, mas satisfeita também não estava. Levantei, fui até lá.

Abriu a boca num bocejo que emendou num sorriso. Olhos fixos em mim. Queria conversa.

Filhinha, isso não é hora, a mamãe está com sono, vamos acalmar os ânimos? Jogava as duas pernas para cima e puxava os pés para a boca. Arrancou fora uma das meias, que também levou à boca. Quando eu achei de interferir, meu dedo foi aonde? Boca.

6:20 Dei chupeta, não quis. Queria chupar tudo, menos o que é feito para isso. Insisti, ela tomou das minhas mãos e levou à boca – só que invertida, mordia o arco de plástico e fazia cara de reclamação. Eu, ainda de pés descalços, na esperança abobalhada de conseguir acalmá-la e voltar a dormir, qualquer minutinho já era negócio para mim numa hora dessas...


6:30
Fui ao meu quarto e calcei um pé do chinelo. Voltei mancando, que o chinelo é meio alto, mas decidida: só fico aqui mais cin-co-mi-nu-tos. Estou só metade calçada, portanto, metade acordada. Vou abrir o mosquiteiro e ela estará dormindo profundamente, tenho certeza. Volto para cama e descanso até as 7h. Só que antes de abrir o mosquiteiro ela voltou a resmungar, dessa vez um pouco mais alto.

6:40 Fechei as portas dos quartos para não acordar o pai dela. Melhor assim, agora estamos só nós duas aqui, papo de mulher. Por falar em mulher, lembrei-me da academia, que me lembrou yoga. No desespero, puxei “ooooommmmmmmmm” para ver se ela relaxava, hipnotizava, sei lá. Ooommm, ooommmmm, oooommmmm, repeti dezenas de vezes. Ela mordia o travesseiro e o lençol ao mesmo tempo, animadíssima (acho que entrou para a aula de aeróbica e me deixou meditando sozinha).

6:50 Voltei outra vez ao meu quarto e calcei o outro chinelo, mas não vesti nem o roupão. Dessa vez ela dormiu, aposto todas as minhas camisolas como dormiu, é só dar meia volta e vou tirar meu soninho da beleza, tenho ainda 10 minutinhos, melhor que nada. Que nada! Ela dava gritinhos e batia os pés no colchão em ritmo de afro-olodum-reggae-hip-hop. Quem foi que teve essa ridícula idéia de academia?


7:00
Nós duas no sofá da sala, depois de 50 min de batalha em vão. Ela, deitada no meu colo, abocanhava meu peito e tirava o soninho da beleza. Dela, claro.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Era fantasia

Muitas coisas que eu fantasiava sobre a maternidade não viraram verdade comigo. Pensava, por exemplo, que ser mãe me daria uma espécie de “aura da serenidade”; que eu ia ter uma paciência interminável, não só com as crianças em geral, mas com as coisas da vida. Que ia me estressar menos, ficar menos ansiosa, deixar de prever catástrofes madrugada adentro. Ter calma e sabedoria, saber esperar o momento certo, aquela coisa meio Buda.

Não sei de onde tirei tanta bobagem!

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Cadê a mamãe?

Agora com quase 8 meses, ela se joga na direção do objeto desejado, mostrando interesse alegre e urgente. A estante de livros e DVDs, uma latinha ou garrafa de refrigerante, coisas coloridas em geral.

(Parênteses: li uma ótima no jornal de ontem, sobre tempos modernos. Uma criança viu um LP na mão do pai e disse “olha um DVDão!”).

Eu me escondi atrás da porta e fiquei dizendo “cadê a mamãe?”. Depois apareci para ela e voltei para trás da porta. Fiz outra vez. Na terceira vez, fiz “cadê a mamãe?” e continuei escondida. Ela, no colo do pai, entortou o tronco e me achou no esconderijo. Risonha.

Todo dia eu penso que já entendi o que é ser mãe, e todo dia ela vai me buscar no esconderijo para mostrar que eu ainda não entendi.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Nova inspiração

Fiquei uma semana sem internet em casa, mas voltei com nova inspiração. Olha no videozinho aí do lado...

Perigo: bebê a bordo



Outro dia eu atravessava a cidade tranqüilamente, de carro, com minha filha na cadeirinha dela, quando ouvi no rádio o seguinte comentário. Preparem-se.

Em São Paulo, um delegado comentou que tem observado uma nova “tática” dos assaltantes. Em vez de dar preferência somente a carros com mulheres sozinhas – como era sabido -, como se não bastasse, agora estão escolhendo as vítimas pela presença de bebês a bordo.

!!!

Segundo o delegado, parece que a preferência é baseada no fato de as mães se apavorarem diante da ameaça aos filhos (ainda mais depois do ocorrido com o João Hélio). Assim, a ação dos ladrões seria “mais simples”.

Eu nem sei como classificar uma nota como esta.