sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Fim da amamentação

Filha, anota aí no seu caderninho: no dia 27 de fevereiro de 2008 você mamou no peito da mamãe pela última vez.

Não! Pelo amor de Deus, não anota isso. Dito assim parece até dramático, que horror. Vamos começar de novo.

Filha, olha que cálculo bonito a mamãe fez hoje: você mamou no peito todos os primeiros 379 dias da sua vida! Como assim “que peito”? O da mamãe aqui, of course.

Se foi bom? Foi, sim. Nós quatro nos demos muito bem (você, meus dois seios e eu – que, das partes envolvidas, até que era a mais dispensável). Vocês três se entenderam muito rapidamente, ainda no hospital. No início você sugava e sugava, mas não saía um pingo. Sua persistência foi fundamental no processo de produção e liberação do conteúdo. A fome ajudou, claro. Veio leite.

De minha parte, ficava mais com a produção do evento: arrumar uma poltrona confortável e uma almofada digna. Sentar-me. Cruzar uma perna sobre a outra. Pegá-la no meu colo e direcioná-la para o objeto a ser esvaziado – restando-me pouca opção, esquerdo ou direito? Qual teria sido o último? Pacientes, esperavam que eu me decidisse. Não se importavam em ceder a vez.

Você, bonitinha filhota, começou um tanto atrapalhada. Abocanhava, quase às cegas, qualquer coisa que viesse primeiro: meu dedo, ou mesmo um pedaço do seio que, por mais que sugasse, jamais daria leite. Depois foi descobrindo os meios (literalmente), os bicos, os jeitos. Há tempo para tudo.

Assim foi que seguimos nosso caminho de lactante e lactente, paciente e prazerosamente, durante pouco mais de um ano. Até que, já no final, o evento começou a encurtar. Por mais que eu produzisse as condições externas (sofás, travesseiros, almofadas e até uma TVzinha, que ninguém é de ferro), já faltava aos nossos redondos companheiros de viagem a devida ênfase em produzir o seu leitinho de cada dia. Vai ver tinham cansado.

Você mamava alguns segundos e me olhava, surpresa:

- Bô?

Sim, acabou, eu confirmava. Aceita um biscoito?

Compreensível (ou esfomeada, ou conformada, nunca saberei), você sempre aceitou. Biscoitos, frutas, pães, bolos, queijos, leite em pó. O que viesse você apontava e fazia “hummmm”, e seguia traçando sem dó. Delícia de ver.

Espero, filha, que tenha servido para alguma coisa essa nossa turnê mamária sem fins lucrativos. Para fins imunológicos, psicológicos, pedagógicos, mais ou menos lógicos – não importa.

Importante é que nós duas comparecemos, uma à outra, ininterruptamente, todos os 379 dias do projeto.

Convenhamos, sucesso de público e crítica.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Viagem com bebê

Como alguns já sabem, em março nós vamos fazer uma viagem pela Europa - a primeira da Lara. Pesquisando pela internet, encontrei esse blog maravilhoso com ótimas dicas sobre viagens com bebês.

Nele, o pai de uma menina chamada Clara escreve textos impagáveis contando como a família vive coisas corriqueiras como check in, vôos internacionais, hotéis, jantares e passeios turísticos - que, é claro, com um bebê ganham ares de estréia para todos os envolvidos.

Para quem estiver pensando em correr mundo com o pimpolho a tiracolo é leitura indispensável. E para quem simplesmente adora viajar, mesmo sem bebês, trata-se de uma ótima fonte também.

Boas viagens!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Meu bebê tem um ano



Você não vai se lembrar, filha, mas a festa do seu primeiro aninho bombou. Olha a foto do bolo aí em cima. Vovó Wilma fez tudo com as próprias mãos – inclusive o bolo, sabia? E o comentário geral foi: como ela está se divertindo!

Claro que a vovó estava se divertindo. Mas o comentário era sobre você.

Ficou linda naquele vestido “longuinho” branco com flores bordadas. Mamãe comprou o sapatinho de última hora, não era o mais bonito do mundo, mas no seu pé ficou uma jóia. Aliás, duas. Três com o seu sorriso. Quatro com a sua alegria. Cinco, sete, quinze, treze, oito.

(Calma, você ainda vai aprender a contar, e depois vai aprender como é legal quando a gente esquece a ordem dos números porque bate uma onda de alegria e bagunça tudo. Essa parte do bagunça tudo você já está começando a pegar rápido, tenho reparado).


Kiu – da lei da gravidade, não tão grave assim

Filha, hoje você disse “kiu” pela primeira vez. Acho que temos que conversar um pouco a respeito. Dizer kiu é muito importante na vida de uma pequena pessoa. Das grandes também.

A mamãe presenciou e vai registrar aqui o momento para não esquecer: você atirou um carrinho no chão e disse: kiu! Apontou para ele e repetiu: kiu!

Sim, o carrinho caiu. Quando as coisas voam da nossa mão e batem no chão é kiu. Quando uma bolinha de algodão escorrega do trocador, por exemplo, a gente pode dizer que é um kiu macio. Quando é um copo de vidro, kiu e quebrou. Não faz mal, é só não pisar em cima e chamar logo um adulto.

Um detalhezinho que você pode ainda nem ter percebido: pessoas também kiu. Mamãe já kiu de bicicleta uma vez e tem a cicatriz até hoje. Você também já kiu várias vezes, sabia? Até chorou, mas foi só o susto. Kiu, mas nem doeu.

Uma coisa o seu tio sempre diz: avião não cai, ele é derrubado. Seu tio é piloto, mas graças a Deus não exerce a profissão (mamãe ficaria eternamente preocupada com o kiu dele). O que ele quer dizer com isso é que aviões não foram feitos para cair. Se não houver nenhum erro, seguem voando até pousarem confortavelmente em algum aeroporto grande e liso.

Isto posto (mamãe envereda por uns termos esquisitos às vezes, desculpe), deve ficar claro o seguinte: kiu é normal, é a lei da gravidade. Todos os corpos – e os pedaços, e os cacos, e os punhados e até os farelos do biscoito de maisena – são atraídos loucamente por uma coisa reta e dura chamada chão. Até dizem: “do chão não passa”. Isso significa que a lei da gravidade, na verdade, não é tão grave assim.

Quando você joga alguma coisa no chão, dizer kiu é relativo. Claro que kiu, mas foi porque você quis. Isso pode amenizar o olhar perdido e sensação de injustiça, afinal, já viu jogador de basquete ficar triste porque a bola kiu na cesta? Só se for do outro time.

O que a mamãe quer dizer com essa conversa toda é que existem inúmeros tipos de kiu, e nem todos são tristes. E, principalmente: tem coisa que jamais kiu. Você é milha filha – e podem mandar a lei da gravidade com o promotor mais engravatado e o juiz mais gravíssimo que houver, ninguém nunca vai conseguir fazer isso kiu. É nosso e ninguém tasca.

A alegria da família na sua festa de um aninho, o seu sorriso faceiro e sapeca diante do bolo fazendo hummmm, as palminhas que você batia no colo do seu pai e as gracinhas que você fazia provocando risos gerais – tudo isso tem um selo enorme escrito assim: “eternamente à prova de kiu”.

E o resto todo pode kiu à vontade, é só a gente não pisar em cima e chamar logo um adulto.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Um aninho

É amanhã. Ela faz um aninho.
***

Pequeno Dicionário de Um Aninho (em ordem desalfabética, uma vez que ela ainda não se alfabetizou):

“Buuu” – acabou. Quando acabou o conteúdo do meu seio, ou da mamadeira, ou do prato de comida. Buuu. E faz o gesto com as palmas das mãozinhas para cima, como quem diz acabuuuu-se o que era doce. Detalhe totalmente baby-tech: ontem eu estava com ela no colo e mandei reiniciar o laptop. Quando a tela apagou, ela me olhou espantada e: “Buuuu”.

“Papá” – papai. Ela diz muito. Quando o pai chega, exclama com alegria. Quando sai, chama com convicção. Quando entra alguém e o pai está presente, aponta e indica a qualquer pessoa que já sabe quem é o “papá”. Mas, muita atenção: também pode significar comida, comer, comendo, comerei, comeria, comi, comício, comarca, comércio, comilança, comensais, começo e comédia. (Ou disso tento me convencer no afã de achar razão plausível para o fato de ela dizer 9 “papá” para 1 “mamã”).

“Mamã” – mamãezinha querida do meu coração. Ponto.

“Mamá” – sutil diferença no último “a”. Repare que o “ã” do “mamã” é com til, portanto nasal. Nasal vem de nariz, que vem de cheiro, que vem do insubstituível amor materno e sua nasal intimidade afetiva, efetiva e olfativa com o bebê desde o nascimento até a primeira cópia da chave de casa. Deus, quanta bobagem a gente diz no desespero. Enfim. E “mamá”, com “á” aberto, significa leite, seios, mamadeira ou simplesmente “tô com fome!”.

“Nãnã” – não. Quando se aproxima de uma tomada, por exemplo, faz o gesto com o dedinho indicador e repete “nãnã” como quem diz que ali não se pode mexer. Ou seja, o não ela já conhece. Resta saber se já ligou o nome à pessoa.

“Vavá” – vovó. Quis ensinar que tem a vovó Wilma e a vovó Aninha, mas achei que por enquanto estava bom assim, no genérico, mesmo.

“Ufff” – Ursinho Puff (estampado no babador). Também pode significar aquele tigre que é amigo do Puff, ou o próprio babador.



"Caié" - jacaré. Por enquanto só conhece por desenho, num livro e na capa de um DVD infantil. Melhor assim.

"Cacá" - cocô.

"Pu-pu" - Piu-Piu, o pintinho do desenho que está na mamadeira pequena. Ou as aves em geral, incluindo um enorme pelicano de pelúcia que ela ganhou de Natal. Detalhe: ela diz "pu-pu" muito agudo, estou desconfiada de que acha que o "i" é um "u" extremamente fininho... Faz sentido.

“Bumbum” – automóveis em geral, inclusive os que voam.