Até tu, birra?
Hoje você fez birra. Minha filha, você fez birra. Vamos fazer de conta que eu não vi. Mas eu vi, sim, que você fez birra.
Muito bem, o negócio é o seguinte. Aqui temos papéis a cumprir, você e eu. Não vou ficar chateada, magoada, irritada porque você queria mexer na tampa do vidro – e eu não deixei. Duas vezes, não deixei. Três. Quatro. E você endureceu todos os músculos do rosto, ou pelo menos os que você sabe endurecer, e emitiu sons arranhados e agudos. E eu segui não deixando.
Você ficou indignada porque o endurecimento dos músculos do seu rosto não surtiu efeito algum no universo, tampouco seus sons contrariados, e me olhou bem desafiadora.
- Grrrsssffffmmmmxxxxssss!!!
Ralhou comigo em russo. Só me faltava essa. Continuei não permitindo que você mexesse no vidro, em bom português.
- Aqui não pode.
Você deve ter pensado, eu aqui me esforçando no vocabulário e essa mulher limitada engasgou-se numa frase, aqui não pode, aqui não pode, mas será o Benedito? Isso eu já ouvi, não pode. E daí que não pode? Se eu quero. Tem que poder. Por acaso eu tô falando russo, ô?
- Aqui não pode.
Você me desafiou outra vez, agora duas oitavas acima. Meus assustados tímpanos me questionaram: tem certeza que ela não pode mexer no vidro, uma vezinha só, vai?
- Aqui não poooo-deeee!
Ser mãe é botar os tímpanos na zaga se preciso for. E não permitir certos chutes a gol (nem por um estádio inteiro de insistências).
Ser filha é fazer birra e ver até onde vai colar, por isso não vou me chatear com você. É seu papel, está escrito no manual prático de como ser um bebê normal: fazer birra e tentar espichar o elástico do “não pode” até ele se romper e a gente ficar só com a parte do “pode”.
Surpresa! Mamãe está aqui para lembrar, docemente, a parte não tão doce da vida. Não pode o vidro, mas pode a bola. O carrinho. Olhar o céu. Apertar o caracol de borracha. Dar beijinho. Quanta coisa boa a gente pode!
Sabe? Secretamente, até achei sua birra engraçadinha.
Mas isso eu só conto quando você fizer 30 anos.
7 comentários:
Isso me lembra alguém (bem pequininha) que cantava "Dinheio chim...sabe quem é?
Bjs
Que doce.
Ai ai, o melhor de tudo é que sei q vou passar por isso daqui um tempo.
Bela crônica. Bjs
Linda crônica. Adorei! E não vejo a hora de passar pelo mesmo dilema.
Hahahahahaha... Birras, como são terríveis, não?? O meu pimpolho - Pedro Antônio, de 5 meses - aprendeu cedo o que é fazer birra. E ainda por cima é cínico. Pq qdo ele não quer fazer o que deve (colocar roupa depois do banho, por exemplo) ou quer fazer o que não deve (puxar qquer coisa ao alcane de sua linda mãozinha e pôr na boca, por exemplo), ele grita. E chora (sem lágrimas, é claro!). E esfrega o rostinho todo, até ficar roxo (ele é branco quase transparente! rsrs). E eu digo "Pedro Antônio, NÃO!", e ele pàra a birra, me olha sério, e sorri. Sorri não, gagalha mesmo...
O que é que se faz numa hora dessas??? hahahahaha...
Filhos são tudo mesmo. Até na hora da birra.
Bjs pra vc e sua linda menina.
Legal!
Continua a Bíbi leve de sempre.
Estou apaixonada por vcs duas!
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