terça-feira, 6 de outubro de 2009

Birra de criança - como resolver?

Uma espectadora escreveu para o programa de TV contando a seguinte história: estava com o filho no shopping quando o menino se jogou no chão e começou a fazer birra porque queria uma bola. A mãe o deixou ali mesmo e, conforme suas palavras, “foi embora”. 20 minutos depois, anunciaram no microfone que um menino estava perdido, e ela foi buscar o filho. Segundo essa mãe, foi muito difícil “correr esse risco”. Mas concluiu: “foi a última birra da vida dele”.

Quase faço a piadinha infame: "Ainda bem, porque poderia também ter sido a última vida da birra dele". Que bom que eu não fiz a piada.

Agora falando sério, certamente ela não conseguiu conter a birra e partiu para uma solução, como ela mesma define, “de risco”. Fico imaginando que essa mulher deve adotar outras soluções “de risco” na sua vida – e, pelo visto, até agora o saldo tem sido positivo, pelo menos a curto prazo. Resta saber se haverá sempre microfones à disposição para garantir bons desfechos, ou se, algum dia, a opção de resolver a encrenca pelo “susto” vai acabar assustando a própria família, mais do que cumprindo uma função pedagógica supostamente adequada.

Aqui vai uma dica básica da especialista presente no programa: depois de 20 segundos, a criança já não lembra o motivo da própria birra. Então, não adiantará nada argumentar. A solução é sempre conter a birra no início, porque a tendência é virar uma bola de neve quase impossível de se controlar. Como interromper a birra? Distraindo a criança, chamando a atenção dela para outra coisa – imediatamente. Se for necessário, abraçar a criança de modo firme (para conter a birra e, ao mesmo tempo, oferecer a segurança: “eu estou no comando”).

Onde nós estamos?

Para além das questões objetivas de risco e segurança: quando minha filha faz birra, onde eu estou? Certamente, não estou nela. Pode parecer poético dizer que estarei dentro da minha filha, procurando entender seus desejos e perplexidades diante do mundo que se apresenta. Mas isso resulta, na melhor das hipóteses, em piada. Como neste vídeo em que a mãe resolve "dar o troco" no próprio filho.



É engraçado - porque é ridículo, além de ineficiente - nos colocarmos na mesma perspectiva dos nossos filhos. Ela vai fazer três anos e eu, 32. Assim como não é justo exigir dela a maturidade que eu tenho, também é injusto "fazer de conta" que somos a mesma pessoa. Ora, ela precisa de uma mãe! Se eu passar horas explicando que não pode lamber o chão porque é sujo, e mesmo assim ela quiser lamber o chão, e eu continuar argumentando - em vez de simplesmente impedi-la -, isso significa que nós duas estaremos, literalmente, comendo poeira. Até quando?

Até ela bater em uma amiguinha? Até humilhar um empregado? Até querer fumar maconha? E onde nós (pais) estaremos, afinal? Dentro deles não me parece ser um bom lugar.

Por outro lado, não me agrada a ideia de ensinar pelo choque, pelo susto, pela ameaça da minha ausência. Uma criança não se descontrola porque está "de sacanagem" com os pais. Somos um sistema, convivemos dentro da mesma casa - como posso achar que, subitamente, minha filha "recebe uma entidade" estranha e vira um monstrinho que treme e baba? Posso brincar que ela "se transformou", e até sentir isso por um momento, mas não posso, racionalmente, tomar uma decisão que pretenda lhe impor limites oferecendo a seguinte lógica: se a coisa apertar, minha mãe cai fora e eu tenho que me virar no mundo. Uma evolução (desastrosa) desse raciocínio seria: deixa eu ir dando um jeito enquanto sou criança, porque quando eu virar adulta é só fugir assim que surgir uma dificuldade. Nesse caso, a mãe correu para dentro dela própria e deixou que a sorte resolvesse a parada.

Não tenho a resposta certa, mas acho que o nosso lugar não deve ser dentro deles, e também não pode ser tão dentro de nós mesmos. Ideal seria se pudéssemos criar um novo lugar, no meio do caminho, próximo o suficiente para haver empatia e solidariedade, mas distante o suficiente para nos permitir respirar fundo e impor limites e restrições, segundo as regras que nós julgamos ser importantes. E arcar com as consequências.

8 comentários:

Dona Pimenta disse...

Muito bom esse post! Tava mesmo querendo ler algo sobre o assunto. Meu baby tá fazendo um aninho e já se achando gente grande com vontade própria e direito a manifesta-la...risos....Adorei teu blog. E adorei mais ainda conhecer uma vizinha blogueira e gaúcha! Mas bah! Isso sim foi tri legal!!!!
Bjs da Pimetna

Letícia Volponi disse...

menina, é difícil, a laura está bem nessa fase e às vezes me pego no limite da paciências, mas em geral a melhor solução é mesmo distrair a criança, mostrar outra coisa, oferecer uma brincadeira, cantar uma música, mostrar um inseto estranho.

bibi disse...

Oi, Pimenta!
Vizinha gaúcha morando no Rio?
Obaaaa! Let's trocar figurinhas e chorar de saudade do XIS!
Hoho.

Beijos!

bibi disse...

Letícia,
haha, essa de "mostrar um inseto estranho" é bem coisa de quem está afinadíssima com a função da maternidade. A gente inventa cada coisa criativa.

Eu já percebi que o melhor é usar as palavras que elas já conhecem para descrever as coisas, sempre com um tom de estranhamento/curiosidade. Gerar interesse imediato. O inseto estranho é perfeito, é tiro e queda.

Você diz: "olha aquela mini-mariposa, será que as asinhas dela são amarelas como o sol de manhã na pracinha, ou... espera, estou achando que ela vai voar pro céu... ó, não! Não é nada disso, ela quer comer a maçã vermelha, igualzinha à maçã da Magali na historinha... ou será que era a Mônica?".

Nisso ela já esqueceu a birra e responde, impaciente: "ERA O CEBOLINHA QUE ESTAVA COMENDO A MAÇÃ, MAMÃE!!!". Hahaha.
Kids, adoráveis.
:o)

Angélica disse...

Ai Bibi, manda aqui pra mim uma dose extra de paciência que eu ando bem precisando! KKKKKK. Eita fase dos dois anos! Mas quando é que eles fazem três mesmo? Meu adorável príncipe de 2 anos e 10 meses está passando por essa fase de testar limites e achar que pode tudo. Claro que não é agradável ser a megera toda vez, mas o filho é meu e eu tenho que educar. Tem algumas coisas que são negociáveis. Outras NÃO. E é aí que eu quero chegar. Que ele entenda esse não. Do modo dele, por enquanto, mas que sinta a segurança que eu estarei lá, ao lado dele, nem que seja para confortá-lo, quando a vida não for tão azul quanto ele espera.
Beijos.

Anônimo disse...

Não sei do que gostei mais: do teu post, impecável, ou da historinha da mini-mariposa e a maçã. Menina, vai escrever livro infantil!
Beijo,
Roberta

bibi disse...

Angélica,

dizem as más línguas que os adoráveis príncipes são ainda mais complicadinhos de se lidar do que as adoráveis princesas... Aaff!
Sorte para todas nós...
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Roberta,

já escrevi dois livros infantis! Estou começando a batalhar pelas edições, quando estiverem nas livrarias eu aviso!
:o)
beijos!

Thaís Rosa disse...

adorei a imagem de um espaço entre estar dentro de nós ou dentro deles. perfeita. criar esse espaço é o grande desafio.
e a tática de mudar o foco da atenção é tiro e queda, o mundo é todo novo para eles, e sempre tem algo mais interessante a ser descoberto.
também aposto no seu talento de escritora infantil!!! avisa mesmo quando forem publicados!!!
bjs