quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Casaquinho do Papai

Conheci meu marido, o pai da Lara, através de um texto que ele escreveu e andou circulando pela internet entre nós, músicos. O maestro escrevia sobre o absurdo da sexualização infantil no “funk” – que, naquele tempo, era considerado pela grande maioria dos “formadores de opinião” como uma manifestação cultural da periferia, contra a qual era difícil se posicionar sem levar pedradas. Pois ele foi brilhante ao atacar, com critérios incontestavelmente musicais, o tal do funk. Arrasou.

Como era colunista de um grande site de jornalismo e opinião, aquele artigo sobre o funk fez um enorme sucesso e dividiu opiniões, gerou debates, foi encaminhado para as listas de discussão de músicos e produtores, causou polêmica. Esta cantora que vos escreve bateu o olho no texto e mandou uma mensagem para dizer: até que enfim alguém disse o que todo mundo gostaria de dizer e nunca disse! Saudações musicais recíprocas.

Nascia ali uma amizade virtual e uma sincera admiração intelectual que, alguns anos mais tarde, transformou-se naquilo que eu procurava a vida inteira, mas imaginava que só existia nos filmes – e nem ouso definir com palavras, porque nessas horas eu sou nojenta de tão clichê. (Olha aí, acabei de ser outra vez...).

CORTA PARA
Setembro de 2009, Bienal do Livro




Eis o livro que ele está lançando agora. Chama-se “Os Casacos Mágicos do Theatro Municipal”, e eu já li umas dez vezes. Adoro o texto. Aliso as páginas. Já me peguei com vontade de pentear as vírgulas, beliscar as bochechas dos pontos e dar banho nos travessões, como fazemos com a nossa filha. Só tem uma explicação, a mais boba: o livro é muito fofo!

Ele conta a estória de uma menina chamada Isabela, que vai – meio contrariada - assistir a uma ópera no Theatro Municipal e acaba vivendo uma aventura mágica no camarim. Dá para sentir o clima nesses trechinhos que eu, descaradamente, vou copiar aqui sem pedir permissão:

“Quando saímos da estação do metrô, eu vi ao longe o teatro e o monte de gente em frente para entrar. Ele é bonito, alto, parece um castelo antigo, só que mais enfeitado e cheio de luzes. Mas também parece ameaçador. Três grandes tapetes vermelhos descem lá das portas pelas escadarias. De repente, eu vi o teatro como um grande monstro devorador de gente, com três línguas lançadas nas calçadas para arrastar todo mundo para a sua boca enorme.”

Já dentro do camarim...

“Comecei a ficar com medo. A sala estava vazia, quase sem luz, e nada da tia Vera voltar. Ouvi alguns sons de instrumentos e aplausos distantes. A música recomeçou. Será que ela tinha me esquecido aqui?

Foi quando ouvi um barulho de coisas chacoalhando e uma voz falando bem baixinho. Não entendi nada, nem vi o que era; numa daquelas estruturas para pendurar roupas, alguns cabides com diferentes casacos balançavam, mais nada. A voz falou outra vez, vinda não sei de onde, e agora eu entendi que alguém dizia: “é só uma menina”.
Como assim, “só uma menina”? Acham que é pouco ser uma menina? Fiquei braba e me levantei da cadeira.”


É ou não é?

Desculpem esta blogueira se pareceu um grande jabá em família. Fazer o quê? Desde que juntamos nossos casaquinhos, tem sido assim.
:o)

6 comentários:

Paloma disse...

Que lindo! Adorei! Já lançou? Onde podemos comprar? A minha Isa vai amar. bjos
Paloma e Isa

Letícia Volponi disse...

ai, que gostinho de quero mais....

bibi disse...

Meninas,
o livro já está sendo vendido na Bienal aqui no Rio, e também pode ser adquirido através do e-mail editora@usinadeletras.com.br
Obrigada!
:o)
Beijos da
Bíbi

Karenina disse...

ah, que maravilha!!!
todo o sucesso do mundo nessa publicação :)
abraços,
karenina

bibi disse...

puxa, obrigada, Karina!
:o)
Beijos.

Thaís Rosa disse...

fiquei curiosa também... o post deu água na boca! até hoje, quando entro em um teatro pela porta dos fundos, pelas coxias, me sinto meio como a menina do livro me pareceu nestes trechos... um misto de medo e maravilhamento, de estar sozinha e ao mesmo tempo rodeada de "casacos mágicos"... lindo tema para um livro infantil.
será que a lara escapa de virar artista???