sábado, 7 de julho de 2007

Bebetiqueta - a etiqueta para os bebês

Precisávamos dar uma reforçada no enxoval. Chegamos à feira de bebês quase na hora de amamentar. Havia lá, naturalmente, um “espaço amamentação” (ou algo assim). Então, seguimos as placas.

No local indicado, encontrei uma mulher sentada numa cadeira, dessas de escritório (a cadeira, não a mulher), e um carrinho de bebê vazio do lado. Nenhum bebê. A mulher olhava para os lados.

- Oi. Cê quer dar de mamar?
- Isso.
- É ali, ó. Eu não entrei porque está lotado.

Dentro da salinha apertada, poltronas e pufes bem simplezinhos acomodavam três ou quatro lactantes e seus famintos bebês. Espiei, curvando o pescoço para ser discreta, mas todo mundo me olhou.

- Pode entrar!!!

Quem me deu a ordem (com três pontos de exclamação) foi uma senhora de cabelos grisalhos arrepiados. Tinha os pés descalços em cima de um pufe. Era a única sem-bebê do pedaço. Entrei.

- Pode sentar, senta aê!

“Sentaê!” (Isso é jeito?). Sentei aê assim mesmo. Olhei as colegas. Cada qual tinha a cabeça baixa e nenhuma vergonha do seio desnudo, mas muito constrangimento pela mulher do sentaê. Que peça.

Pensei: não vou dar trela. Pois a mulher fazia perguntas a todo momento, a todas as moças presentes, sobre os cuidados com os bebês. Perguntas do tipo “teste”. E dava aulas. Pior, ordenava:

- Agora põe ele para arrotar. Faz assim, bate nas costinhas dele. Assim, ó! (E fazia o gesto num bebê imaginário que, decerto, arrotava loucamente em seus braços).

Minha filha já estava mamando. Abri o celular, involuntariamente, e comecei a apertar os botõezinhos – depois me dei conta de que fazia isso na esperança de me tornar invisível aos olhos daquela indelicadeza em forma de senhora. É incrível como apenas uma pessoa consegue estragar um ambiente supostamente normal.

Primeiro, pensei que ela fosse parente de uma daquelas mães. Que nada, cheguei à conclusão: era uma “consultora de amamentação”. Cristo!

O clima foi piorando. Chegou uma menina com um bebezinho recém-nascido. Todo mundo deu boa tarde e pronto. Mas a nossa consultora, claro, teve de puxar papo duas oitavas acima do tom que seria adequado.

- Credo! Quantos dias tem essa criança?

A mãe respondeu, oito dias. Ela deu um pulo.

- E você traz essa criatura para uma feira? Jesus! Mas ele nem tomou as vacinas ainda!

Todas nós estávamos estranhando o fato, realmente. O bebê era novinho demais. Eu não faria. Você não faria. O pediatra não recomendaria. Mas não era assunto da minha conta! Da consultora, era. Ainda queria saber mais.

- E qual a sua idade?

Dezesseis anos tinha a mãe do recém-nascido. E ela, indignada:

- Uma criança que vai criar outra criança!!!

Constrangimento geral. Um bebê começou a chorar, graças a Deus, e o assunto morreu ali.

Deveria haver uma coisa chamada bebetiqueta. A etiqueta do bebê. Frases que você deve evitar dizer a quem está com um bebê, na barriga ou nos braços. Aliás, isso poderia virar um livrinho, que seria o maior fracasso editorial, porque ninguém iria comprar. Por dois motivos: primeiro, quem tem “semancol” não precisa de um manual de etiqueta. Segundo, quem não se manca não quer jamais se mancar. Se quisesse, já teria tomado jeito.

Terminei de amamentar e saí de lá com a vantagem de não ter sido interrogada, testada ou esculhambada pela professora sem modos. Mas já tinha bolado um plano. Se ela viesse me abordar, eu começaria a olhar para todo canto e, dando altas risadas, pediria que ela me mostrasse a câmera escondida.

- Já sei que é pegadinha! Oi, mãe! Tô na TV!

Ah, pena que ela me deixou em paz...

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