terça-feira, 10 de julho de 2007

Diálogos com bebês

Começando pelas vogais

A primeira vogal que ela emitiu e repetiu concordava com tudo. “É... é... é...”. Oba! Um bebê cordato.

- É... é...
- Fala pra mamãe. É verdade que você é a menina mais linda do mundo todo?
- É...
- E agora você já mamou e vai dormir bonitinha?
- É...
- E, quando crescer, vai ser bem comportada, carinhosa, cheirosa e mais linda ainda?
- É...

E por aí vai. Algumas semanas depois, comecei a perceber que ela canta os seus refrões de “é” quando está ficando com sono. É, como um mantra que já vem embutido e lhe acalma. Muito bem ritmado, cadência perfeita. Fantástico é.

Só tem um probleminha. Quando, por alguma razão, não posso colocá-la para dormir naquele momento, a música “éé” começa a ficar mais alta (parece que tem um DJ lá dentro, apertando botõezinhos), e depois mais alta ainda, éééé, éééééé, ééééééééé, até que evolui para um mix de ééééé com barulho de motor de carro arrancando (esses DJs inventam cada coisa), mais alto e cada vez mais rápido, ééé, ééé, ensurdecedor (meu Deus, essa rave vai terminar é quando?).

Ah, os jovens não têm horário para nada. Dou-lhe a chupeta, não aceita. Cospe fora, assim como cospe meus conselhos e apelos para que se acalme, pelo amor de Cristo Nosso Senhor, estamos num local público! E o DJ mandando bala (tomou umas e outras).

Nesses casos extremos, a solução tem três letras: pai. Não me perguntem por que cargas d’água isso ocorre, mas é fato.

- Vem pro colinho.

É assim que ele diz, colinho. E acomoda nos braços aquela pequena criatura gritante, que toca sua barba com a mãozinha babada, lança um olhar açucarado e – finalmente - adormece em profunda e invejável paz. DJ no olho da rua.

Mas é só no colinho do pai. Se eu pego esse tal de Freud.


A língua das mães

Você sabia que existe uma língua especial das mães? É o manhês (em inglês: motherese). Segundo pesquisas feitas por psicolingüistas de várias partes do mundo, a mãe se dirige ao bebê usando uma linguagem caracterizada pela presença de diminutivos em frases curtas e simplificadas, sempre com timbre mais agudo e uma melodia de altos e baixos bem marcados.

Sotaque materno? É mais ou menos isso, e parece que a fala cantada das mães faz com que os pequenos tenham uma clara preferência pela sua voz.


Diálogos com bebês

Mais interessante ainda é constatar que os “diálogos em manhês” são fundamentais para os bebês. Trata-se de uma função materna: atribuindo significados para os sons que os bebês emitem, e promovendo uma conversa entre os dois, a mãe dá ao filho a condição nova de interlocutor. Mesmo que ele não diga nada e que as “traduções” da mãe sejam mera fantasia, é assim que o bebê passa a existir no campo simbólico. E essa nova condição – de ter algo a dizer, responder, revelar – introduz ao relacionamento a incompletude materna.

* Minha fonte foi o trabalho “Por que falar ao bebê se ele não compreende?”, da psicanalista e doutora em lingüística Severina Sílvia Ferreira, que foi apresentado no II Congresso Nacional sobre o Bebê: Psicanálise e Interdisciplinaridade - Recife, setembro/2000.
Leia aqui.

PS de mãe: Tudo muito belo, mas meu ego ficou passado com essa história de “incompletude materna”. Se eu pego esses psicanalistas!

**

Achei dois exemplos lindinhos de diálogos com bebês. No primeiro, um pai todo bobo incentiva sua Julia a falar. Escolhi esse de propósito, para questionar: o que será que os psicolingüistas já sabem sobre o “paiês”? Aqui em casa ele faz um sucesso danado. Nesse vídeo também.



Nesse outro vídeo, uma linda garotinha já está aprendendo mesmo a falar. Dá tchauzinho no final e tudo!

4 comentários:

Tania Carvalho disse...

Bibi
já vai longe a minha maternidade - minha filha tem 28 anos. Já me preparo para ser avó... sei lá quando...quando ela quiser, é claro. Mas já estou preparadíssima... Beijos e parabéns pelo blogo e pela filhota, uma fofa.

Anônimo disse...

Bíbi, estou treinando meu neto, 2 dias mais novo que a Lara, para o diálogo do "voês" - será que em ingles é grandmotherese? Nossa baby class é meio que escondida dos pais, afinal, é uma língua a mais para um bebezinho tão novo. Estou realmente impressionada como ele é aplicado. Nosso diálogo, tanto falado como cantado, tem uma sintonia de pura emoção. Beijo

Anônimo disse...

Arte, adorei o "voês" (em inglês ficou chiquérrimo, hehe). Um neto poliglota!
Beijos.
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Tania, suuperobrigada pela visita! Seu neto também vai ser craque no voês, já vi tudo...
Beijocas.

Unknown disse...

Adu Ayam Pisau