segunda-feira, 6 de abril de 2009

Onde ela ouviu isso?

* Ela passou o fim de semana com os avós, então volta para casa falando gauchês: “tu quer geleia, mamãe?”. Bah, tri bonitinha.

* Ainda sobre a influência dos avós. Hoje ela viu um avião passando e disparou: “Olha pra frente, Araújo!”. (Alguém se lembra da clássica crônica do Luiz Fernando Veríssimo que narra o pânico de um sujeito ao viajar de avião pela primeira vez? Quando ouve a voz do piloto dizendo “Aqui fala o comandante Araújo; à direita, vemos blá blá blá...”, o passageiro não se contém e grita “Olha pra frente, Araújo!”).

O fato é que isso acabou virando um bordão na nossa família, e eu hoje caí na gargalhada ao perceber que ela, sem mais nem menos, “trouxe o Araújo” da casa dos meus pais.

* Batendo papo com as bonecas:

“Joana, vou botar você aqui no cantinho, tá? Sofia também. Todo mundo tem que sair do carrinho porque eu vou limpar o carrinho que tá muito sujo. (E concluiu, em tom professoral:) Não gosto de su-jei-ra!”.

Onde será que ela ouviu isso?

***
Ouvido infantil


Não é a fala de uma criança que nos desestabiliza: são seus ouvidos. Elas ouvem demais – hábito que nós, adultos, muitas vezes “esquecemos” um pouco – e acabam dizendo as coisas mais incríveis, mas que, se pensarmos bem, são puro resultado de uma audição atenta e apuradíssima.

Não deixam passar uma vírgula; estão apreendendo full time e não brincam em serviço.

Observam e captam, depois semeiam e reproduzem a seu modo.

Às vezes, fazem conexões lógicas aparentemente simplórias, mas que acabam revelando muito mais sobre nós mesmos do que os discursos elaborados que repetimos há anos e sequer ouvimos direito.

Ter uma criança em casa é como ter um grande ouvido ambulante, e eu acho o máximo quando a família consegue aproveitar essas anteninhas privilegiadas para também se ouvir melhor, sem aquelas interferências da “maturidade” e da “experiência” (no pior sentido: quando caímos na cilada de achar que vivemos o suficiente para ter as respostas arrumadinhas na sapateira por ordem de tamanho, cor, ocasião social...).

Um comentário:

Itala Maduell disse...

Perfeita a observação. Sem perder a espontaneidade, temos que redobrar a atenção com o que estas esponjinhas absorvem o tempo todo ao nosso redor... Parabéns pelo blog!