quinta-feira, 30 de abril de 2009

Adélia Prado - o melhor que a gente puder fazer

Ontem eu estava correndo na esteira, olhando meus cabelos espetados no espelho (precisando corte), suando em bicas e queimando os miolos atrás de certas soluções profissionais para questões urgentes, e com a mesma urgência me cobrando reflexões elaboradas sobre o problema que o homem do jornal na TV anunciava, e o convidado emendava uma explicação que não me convencia, mas era formado em Londres e o diabo a quatro, e meus cabelos sugerindo antenas que já quase tocavam o teto (ao menos assim imginei)...

Pois cheguei em casa, pus minha bunda na poltrona e fiz coisa bem melhor. Fui me aconselhar com Adélia Prado, escuta só:

“Eu tenho pra mim, depois que a gente tem filho só existe uma tarefa pra fazer: cuidar deles. O que está mais perto do amor de pai e de mãe é ódio de pai e de mãe. Que graça tem meu boteco prosperar se faltar alegria dentro da minha casa? Segue o fio da amargura das pessoas pra ver onde ele vai parar: esbarra no pai e na mãe. Não tou falando que bondade de pai e mãe acaba com o sofrimento das pessoas, não (...).

Eu só quero dizer que se a gente esforçar com decência, parar de pensar na gente, pra incomodar mais com estes que nós pusemos no mundo, eles vão dar conta de sofrer sem perder a esperança.”

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Para quem está pensando em engravidar

Uma amiga me contou que está pensando em engravidar. Acha que pode ser no fim do ano, ou não, ainda tem que refletir sobre alguns medos, conversar com o marido, fazer planos. Acendeu em mim uma luz colorida (vou ser “tia”!), mas depois comecei a pensar em algumas coisas para dizer a ela (luz amarela). E conselho é grátis, então vai aqui no blog para quem mais servir a carapuça.

Talvez porque eu não tenha planejado engravidar naquele maio de 2006 (tecnicamente, minha gravidez começou exatamente no domingo que foi dia das mães naquele ano - coincidência bonitinha), sempre fico pensando em como deve ser maravilhoso, seguro, produtivo e confortável programar a vinda de um filho. Logo eu, que abro uma planilha do Excel até para resolver quantas vezes por dia vou ali respirar na varanda, fico fula comigo mesma quando penso que deixei de curtir esta etapa do processo: prós e contras, pré-produção, orçamento detalhado, quadradinhos coloridos que dão ordem e racionalidade ao sonho. Teria sido tão melhor!

Por outro lado, uma parte de mim garante que eu ainda estaria debruçada em planilhas se a vida não tivesse me presenteado com o que eu julgava ideal para o momento de, finalmente, ser mãe: ter uma formação sólida, a carreira estável, a rotina tranquila e um casamento que nós dois desejássemos ser para sempre. Plim!, comercial de margarina.

Algumas dessas coisas eu conquistei hoje; outras ainda estão em processo. Mas posso garantir que o meu possível “filho planejado” ainda estaria engavetado em algum quadradinho do Excel neste exato momento, aguardando melhor oportunidade para nascer. E essa chance certamente seria adiada esse ano, porque penso em estudar mais um pouco, e para o próximo ano tenho planos de viajar, e no ano seguinte surgiria uma proposta irresistível que me tomaria um tempo danado, mas seria tão importante para a minha realização pessoal... Assim, sucessivamente, eu engravidaria de tantos projetos que não sei se haveria tempo ou disponibilidade para criar uma criança de verdade.

Por isso, vou dizer à minha amiga (já estou dizendo, ela me lê aqui) que tenha cuidado. Não penso que todas as mulheres devam passar pela experiência da maternidade, e, para aquelas que escolhem ser mãe, acho que deve haver um tempo de refletir, ponderar e então partir para o planejamento. Se a decisão for pelo “sim”, sou totalmente a favor das planilhas. Mas é bom ter atenção, porque a nossa geração cresceu enfileirando projetos pessoais e profissionais cujo objetivo principal era nos estabelecer na sociedade com a importância devida – uma conquista feminina apenas iniciada pelas nossas mães, mas que ainda requer muita dedicação pela frente. Acontece que não adianta muito você estudar, trabalhar e ler todos os jornais do dia para, ao chegar aos 30 e muitos, perceber que faltou um pedaço.

O outro perigo é a vontade de não crescer. É bom demais estar solta na vida, namorar sem compromisso e escolher o próximo destino de viagem com base no melhor apartamento entre os amigos que você conheceu pela internet. Mas o tempo vai passar de qualquer maneira, e achar que vamos segurá-lo pelas rédeas só porque não temos filhos ainda, desculpe. O próximo estágio é sentir-se madura, depois muito madura, depois tão madura que já não dará tempo de escolher.

E vamos às questões estéticas, tão em voga atualmente. Se está nos seus planos ser linda e gostosa enquanto seu fôlego e tônus permitirem, e pensa que engravidar ameaça suas curvas para sempre, boa notícia: é tudo besteira. Não são só as moças riquíssimas – que gastam um carro por mês em clínicas de estética – que podem recuperar o corpo que tinham antes da gravidez. Basta ter disciplina e fazer exercício que tudo retorna ao tamanho original, e pode até melhorar.

Retomando: o conselho só vale para aquelas que realmente querem ter filhos, e já não têm 20 e poucos anos.

Herdei da minha mãe uma auto-exigência surreal e a tendência a tomar decisões privilegiando a racionalidade. Tornei-me responsável e comprometida com as minhas planilhas interiores, característica que comemoro a cada conquista alcançada. Entretanto, às vezes é preciso colar o ouvido no peito para cessar os ruídos que a gente mesma produz, e escutar algumas vozes tortas que parecem não dizer coisa com coisa. Elas dizem, ô se dizem.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Se eu pego esse tal de Freud

Brincávamos de rolar na cama, os três. Papai deitou-se, e ela logo se aninhou em volta dele. Mamãe aqui ousou se enroscar junto, mas ganhou logo um cartão vermelho:

- Nããããão, mamãe, nãããão! (E me empurrava, incomodada).

- Quer dizer que eu não posso dormir aqui?

E ela, apontando para o meu travesseiro lá no outro canto:

- Dorme ali na sua vaguinha*, mamãe. Na sua vaguinha.

* Ontem eu brincava de carrinhos com ela. Estacionávamos as miniaturas em suas “vaguinhas”, e cada qual ia dormir no seu canto sem interferir no espaço alheio. Daí o termo, recentemente adquirido, e agora aplicado de forma a expelir o único objeto não desejado do sistema: no caso, euzinha.




Lição do dia: não basta ser mãe; tem que respirar fundo e ser também Total Flex...
Mas cada um na sua vaguinha, please.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Curtinha

Ontem: ficou meia hora aninhada no meu colo, que delícia tão rara.
Hoje: "mamãe, eu fiquei com medinho da mariposa".

O anel que tu me deste...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Velhice

Escovei seus dentes, troquei sua roupa, fechei as cortinas e avisei:

- Agora o papai vai levar você para a caminha, tá?
- Hoje a mamãe não vai levar?
- Não, filhota. Hoje o papai vai levar.
- Hoje a mamãe tá velha?
...
Um corte de cabelo e um chocolate, please.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Onde ela ouviu isso?

* Ela passou o fim de semana com os avós, então volta para casa falando gauchês: “tu quer geleia, mamãe?”. Bah, tri bonitinha.

* Ainda sobre a influência dos avós. Hoje ela viu um avião passando e disparou: “Olha pra frente, Araújo!”. (Alguém se lembra da clássica crônica do Luiz Fernando Veríssimo que narra o pânico de um sujeito ao viajar de avião pela primeira vez? Quando ouve a voz do piloto dizendo “Aqui fala o comandante Araújo; à direita, vemos blá blá blá...”, o passageiro não se contém e grita “Olha pra frente, Araújo!”).

O fato é que isso acabou virando um bordão na nossa família, e eu hoje caí na gargalhada ao perceber que ela, sem mais nem menos, “trouxe o Araújo” da casa dos meus pais.

* Batendo papo com as bonecas:

“Joana, vou botar você aqui no cantinho, tá? Sofia também. Todo mundo tem que sair do carrinho porque eu vou limpar o carrinho que tá muito sujo. (E concluiu, em tom professoral:) Não gosto de su-jei-ra!”.

Onde será que ela ouviu isso?

***
Ouvido infantil


Não é a fala de uma criança que nos desestabiliza: são seus ouvidos. Elas ouvem demais – hábito que nós, adultos, muitas vezes “esquecemos” um pouco – e acabam dizendo as coisas mais incríveis, mas que, se pensarmos bem, são puro resultado de uma audição atenta e apuradíssima.

Não deixam passar uma vírgula; estão apreendendo full time e não brincam em serviço.

Observam e captam, depois semeiam e reproduzem a seu modo.

Às vezes, fazem conexões lógicas aparentemente simplórias, mas que acabam revelando muito mais sobre nós mesmos do que os discursos elaborados que repetimos há anos e sequer ouvimos direito.

Ter uma criança em casa é como ter um grande ouvido ambulante, e eu acho o máximo quando a família consegue aproveitar essas anteninhas privilegiadas para também se ouvir melhor, sem aquelas interferências da “maturidade” e da “experiência” (no pior sentido: quando caímos na cilada de achar que vivemos o suficiente para ter as respostas arrumadinhas na sapateira por ordem de tamanho, cor, ocasião social...).

domingo, 5 de abril de 2009

Sapatinhos de bebê

Acabei de adicionar (ali do lado) "Mãe pega no pé?" - uma pequena fotonovela de sapatinhos de bebê.
Um oferecimento "Leve um Casaquinho", já em clima de dia das mães!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Funk e filhos

Soube hoje: a "funkeira" Tati Quebra Barraco tem 29 anos e uma filha de 15. Está bem. Acontece que a menina pariu ontem Cauã, 47cm, 3.100kg.

Tati Quebra Barraco tem 29 anos e é avó.
Cauã, o neto da funkeira, autora dos seguintes versos:

O que tu quer eu vou te dar
é só você me seduzir
porque eu sou a Quebra Barraco
e tô pronta pra sacudir

E de fato, parece que a família sacudiu.

Consulta com a odontopediatra – 2 anos

Ela estava ouvindo desde ontem “nós vamos à doutora olhar seus dentinhos” e se mostrava animadíssima, mas hoje mudou rapidamente de ideia assim que chegou ao elevador (?). Não queria subir de jeito nenhum. Apelamos para os brinquedos que ela iria rever no consultório, blá blá blá, enfim, embalou.

A secretária abriu a porta, ela viu os brinquedos e já saiu dizendo que era tudo dela. É típico da idade, mamãe, tenha calma. Mas foi só avistar o ambiente todo branco do consultório e já grudou nas pernas do pai. Aqui devo fazer uma confissão: esta menina é tão agarrada ao pai que me causa certo constrangimento quando algum desconhecido supõe que eu, diante de alguma situação tensa, vá servir para acalmá-la. Que nada, é com o pai e não há Cristo. Até me presto a fazer o tipo “mamãe recreativa”; invento caretas e faço barulhos inexplicáveis com a boca, enrolo a língua, polichinelo, o diabo. Na melhor das hipóteses, suspeito que a imagem que levará em seu inconsciente será de uma mãe figurante, no canto esquerdo do vídeo, arriscando macaquices de gosto duvidoso – mas, convenhamos, é melhor que nada. Sentou-se no colo do pai, e o pai na cadeira da dentista, e eu a pipocar em volta contracenando com hipopótamos e arcadas dentárias.

Entretanto - e felizmente -, a doutora era mesmo craque. Em menos de 15 minutos, estava uma com a mão dentro da boca da outra, e para minha surpresa: a maior examinava a menor, exatamente como manda o protocolo. Ufei (do verbo ufar, de ufa!) e saí de fininho assim que acabou a consulta, afinal, os dentes estão em dia e a gengiva é um luxo só. Detalhe: saí sem pagar, porque esqueci o dinheiro em casa. Pensando bem, a doutora devia ficar feliz porque eu nem cobrei cachê...

Anyway, vou ali fazer um depósito e já volto. Alguém viu meu hipopótamo dentuço?

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O jogo do choro – “Crying game”

A verdade é que ninguém nos ensina a dosar a atenção que damos aos nossos filhos. De repente ela aparece pedindo que eu veja o bombom de massinha de modelar que acabou de fazer para a boneca Sofia, e aquilo lhe parece tão urgente quanto uma dor aguda qualquer. Ela quer que eu veja, resolva, solucione, aprove ou reprove o bombom de massinha. Agora!

Quanto disso é urgente mesmo? Quanto é mero capricho? Quanto devo limitar; quanto posso ceder e dar a atenção, mesmo que por um minuto? E, ainda, um lado muito pouco abordado da questão: quanto de mim está realmente disponível nesse momento? Sim, porque sou mãe, mas não sou feita 100% de maternidade.

Negociar com criatividade, estabelecer limites, pensar e plantar as normas que vão começar a reger o comportamento social daqui em diante – e ainda cuidar do pedaço "mim-mesma" dessa história. Trabalho pesado! E olha que ela só tem dois anos.

E olha que ela já tem dois anos.

PS: Por falar em comportamento infantil (em especial, a demanda por atenção), este vídeo é imperdível.