sexta-feira, 8 de junho de 2007

Crianças, suas músicas e idéias

De vez em quando tem festa aqui no prédio. No play. Dezenas de pimpolhos se agitam ao som de uma seleção de músicas infantis, que depois evolui para nem tão infantis assim, depois repica em Ivete Sangalo e alguns genéricos - para, finalmente, acabar a tarde afogando os garfinhos de plástico no Oceano do Djavan, e outras canções mais suaves da MPB adulta.

Tudo isso talvez fosse muito gostoso – e não tenho nada contra o repertório - se o volume não fosse absurdamente alto, e se não houvesse dois ou três “animadores de festa” fazendo mais barulho do que a tropa infantil inteirinha.

Enquanto minha filha ainda é muito pequena para soprar língua-de-sogra, fico aqui, protegida da agitação, pensando: por que diabos, de uns tempos para cá, instituiu-se a idéia de que as crianças (e os bebês!) precisam ficar absolutamente ESTIMULADOS - em caixa alta, literalmente?

Somos nós, adultos, que temos um medo danado do tédio! Crianças não têm nada a ver com isso. Tracy Hogg, a enfermeira best-seller que ficou conhecida como A Encantadora de Bebês, afirma em seu livro (“A Encantadora de Bebês resolve todos os seus problemas”) que a maioria dos bebês sofre mais de superestimulação do que de tédio. E aconselha: não devemos assumir o papel de produtores de entretenimento dos nossos filhos. Deixar a criança descobrir seu próprio corpo, por exemplo, é uma excelente brincadeira. Ficar em silêncio olhando para a parede pode ser uma atividade muito produtiva.

Acesse o site dela. Outro dia eu farei um post maior sobre o livro (leia a sinopse), que é bárbaro e tem nos ajudado muito.

Então, nas festinhas infantis, será que precisamos mesmo contratar “agitadores culturais” e colocar a turma toda para quicar ininterruptamente no salão?

Pois inauguro aqui no Leve um Casaquinho! uma série de músicas infantis (ou inspiradas na infância) que não são necessariamente animadas, assobiáveis ou eletrizantes. Para que a gente possa lembrar que poesia, lirismo, contemplação e aprendizado também fazem a felicidade da criançada.

Para terminar, cito o psicanalista inglês D.W.Winnicott (“A criança e seu mundo”) numa das coisas mais lindas que eu já li sobre os pequenos: “os bebês têm idéias”. Bom, idéias precisam de espaço (físico e emocional) para criar seus mundos.

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Abaixo, Chico Buarque canta João e Maria. A música é do Sivuca e foi composta em 1947; Chico escreveu a letra em 1977, baseado em diálogos infantis. Ele conta a história bonitinha nesse vídeo.

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