sexta-feira, 29 de junho de 2007

Por que crescem os bebês?

Tempo - Yesterday

Ninguém avisa a gente com a devida ênfase – porque, nesse caso, a maior ênfase não seria o bastante -, mas é fato: quando o bebê nasce, o tempo acelera de um modo simplesmente inédito. Você acorda, se é que dormiu, e já é hora de dormir de novo, se é que vai dormir.

Escrevo enquanto ela emite sons experimentais aqui do meu lado, recostada no carrinho. Foi ontem (meu Deus! Foi on-tem!), pelo menos eu me lembro assim, ela estava chutando minha barriga pelo lado de dentro. Hoje, chuta pelo lado de fora. E emite sons experimentais.

Imagina quando ela souber que eu tive uma banda de rock. Yesterday...


Vestido casa-de-abelha

Outro dia ela ganhou um vestido. Enorme. Lindo, com casinha de abelha, branco com estampas coloridas. Abri o pacote e me surpreendi com a delicadeza da nossa amiga, com a beleza do presente... E com o tamanho.

Claro, as pessoas dão roupinhas maiores para os bebês, num ato gentil e inteligente: eles vão crescer! E rápido. Mas tem uma coisa que vem antes desse raciocínio. Chama-se sentimento. Quando segurei aquele vestidão (que, na minha exagerada memória, quase serve em mim!), o primeiro pensamento que me bateu foi: lindo! Pena que não dá na minha filhinha, que é um bebê de quatro meses.

Acorda, mamãe. É um bebê de quatro meses hoje. E meio.

- Pronto! É o vestido de aniversário de um ano! – Definiu o pai, esbanjando invejável tranqüilidade.

Um ano? Pirou?

Na minha cabeça apavorada, aquele seria o vestido de seis, sete ou quinze anos. Demora muito para ela ficar desse tamanhão, não demora? Vamos a Itu comprar um cabide gigante e guardá-lo bem no fundo da última porta do armário mais afastado da casa, ou do prédio...

Estou fazendo humor porque vivo disso, mas, na verdade, existe um paradoxo torturante (como o band-aid no calcanhar). Passo pela rua e vejo lindas meninas de um, dois, quinze ou dezoito anos, e fico logo imaginando minha filha arrastando sacolas comigo pelo shopping, correndo na praia, viajando conosco pelo mundo afora.

Ao mesmo tempo, uma fisgada no pé esquerdo: e quando ela for viajar sem a gente??

Subitamente, minha filhinha reduz seu (meu?) tamanho imaginário, e volta para o confortável lugarzinho de onde nunca deveria ter saído: meu seio materno. E ponto final.

Ponto final uma vírgula! Queira minha insegurança egocêntrica ou não, ela vai crescer. E vai caber direitinho naquele vestido casa-de-abelha imenso. E, um dia, o vestido não vai mais servir, e vamos experimentar 108 calças jeans que ficarão ótimas, mas ela se achará esquisita (ou magra demais, ou gorda demais, ou alta, ou baixinha, ou torta, ou sem bunda, ou bunduda) em TODAS elas.

E eu vou dizer “você está linda!”, e ela vai retrucar “você diz isso porque é minha mãe!”, finalizando com um risinho doce e uma pontinha de rebeldia no arrastar dos coturnos.

Ela já saberá que eu tive uma banda de rock.


Ultrasom e Beatles

Essa é a televisão da casa dos meus pais, onde assistíamos ao ultrasom, que veio com música de fundo – Beatles -, embasbacados com aquelas imagens nem um pouco nítidas da minha filha.



E quando é que eles se tornam nítidos? Como uma fotografia tirada em pleno movimento, nitidez e exatidão não parecem ser os pontos mais presentes na maternidade. Quando você pensa que está aprendendo alguma coisa, tudo muda. Brincadeiras e apavoramentos à parte (ou não!), é maravilhoso que assim seja. As boas emoções dispensam contornos, e a gente cresce é no chacoalhar dos limites.
**

Termino por aqui e deixo vocês com a belíssima canção “Michelle”, trilha do ultrasom que revelou, enfim, o feminino sexo da minha (hoje e sempre, independentemente do tamanho) pequena.

I love you, I love you, I love you
That’s all I want to say


E não sei por que crescem os bebês. Deve ser para lhes caber mais amor.

5 comentários:

Tarso Marques disse...

Mais um lugar para 'pesquisas' pra mim. Muito bom o Blog.

Anônimo disse...

Obrigada, Tarso!
Venha para pesquisar e também para se divertir, please!
:o)

Anônimo disse...

Oi, Bíbi!

Nossa, esse blog maternal está lindo! Tem sido uma aventura deliciosa acompanhar os (quase!) passinhos da Lara. Há tanta ternura em tudo aqui - desde a configuração do blog até suas expressões doces -, que um desavisado pode achar que "pegou" um daltonismo diferente: tá vendo tudo cor-de-rosa. Tomara que seja contagioso... e incurável!

Beijinhos,

Claudia.

Anônimo disse...

Que comentário bonito, Cláudia! Adorei! Obrigadíssima. Beijo cor-de-rosa.

Daniele disse...

Bíbi,
Acho que esse sentimento de querer que eles não cresçam nos invade assim que os nossos rebentos nascem!
Meu baby tem apenas 3 semanas de vida e eu já ficou pensando com ciúme na futura namorada dele!