quarta-feira, 13 de junho de 2007

Por que eles nascem tão pequenos

A primeiríssima coisa que fiz foi perguntar ao pediatra:

- Vem cá, ela não é muito pequenininha?

Não pensei que eu era mãe, que ela era linda, que era minha filha, que emoção, nada disso. Pensei: meu Deus, é minúscula!!!

Pode soar meio ridículo, mas assim se passou comigo. Ao mesmo tempo em que eu me sentia preocupada por ela ser tão pequena, uma parte de mim ficava estranhamente aliviada. Durante a gravidez a gente fica se perguntando se vai ser capaz de cuidar do filho – uma das inseguranças normais do processo. Pois bem, sei lá que tipo de fantasia eu devia ter, mas o fato é que o bebê que nasceu de mim era muitíssimo menor do que aquele que habitava minha imaginação de grávida afoita. Foi assim que, num súbito farelo de pensamento, no exato momento em que ela veio ao mundo, aliviei minha aflição com o seguinte raciocínio maluco: se é desse tamanhozinho eu dou conta.

O médico me olhou com uma cara tranqüila e respondeu que não. Pesou, e ela não era mesmo menor do que a média. Mas eu segui meio cabreira – por um lado – e secretamente reconfortada. Era como se ela tivesse guardado um pouquinho para crescer do lado de fora, sob a minha aplicada guarda de mãe estreante. Deixou meu útero, meus líquidos e minhas capacidades fisiológicas de preservar sua vida e veio cá confiar em mim. Ou seja, já começávamos bem.

Vieram trazê-la no quarto, eu meio grogue naquela cama, a enfermeira repetindo “mamãe, mamãe, mamãe” dezenas de vezes (eles enchem um pouco o saco com essa história, parece que a gente quer muito ouvir que é mãe, então eles dizem e dizem, mas – que diacho! – as coisas desse tamanho lá têm importância ou significado no ordinário mundo das palavras?).

- Agora ela vai mamar na mamãe! – Ouvi de alguém que não era meu parente.

Como assim, vai mamar? As enfermeiras têm um certo prazer em dar ordens. Puseram minha filhinha em cima de mim; uma moça segurou a cabecinha dela e posicionou para que a boca alcançasse meu seio. Sequer me mexi (não gosto de interferir no trabalho alheio). Para minha absoluta surpresa, ela abocanhou com vigor, e sugava, convicta e inutilmente. Claro que não havia nada. Ficou naquele chup-chup vazio por algum tempo, achei incrível. Não saía uma gota, mas o instinto lhe mandava recados: confia, guria, que um dia sai. Três dias depois, saiu mesmo.

Foi assim, no instinto, que o meu leite aprendeu o caminho da fome dela, e que ela aprendeu a ser filha, e eu aprendi a ser mãe. Muito melhor do que o título “mamãe-mamãe-mamãe” (o mesmo que infesta a publicidade no início de maio) é a sensação de ter alguém confiando plenamente naquilo que eu passei nove meses pondo em dúvida: minha própria capacidade de zelar, suprir, bastar.

Daqui a pouco, quando ela estiver ninando uma boneca-bebê maior que ela, vou poder usar minha refinada experiência de mãe e dizer: fica tranqüila, filha. Quando eles nascem, são bem menores...

E ela vai me olhar, lá do alto de sua experiência de bebê, torcer a boca e desdenhar meu conselho.

- Quem aqui está com dificuldades?

É mesmo, filhota. Dificuldade é coisa de gente grande. Por isso você nasceu tão pequenininha.

5 comentários:

Unknown disse...

Lara está cada dia mais linda!!!
Beijos

Anônimo disse...

não canso de repetir... blog lindo! blog show!!!!!!

Anônimo disse...

Minha querida!
Que maravilha! Mesmo cansadinha, depois de um dia cheio de "correrias de gente grande" é uma delícia receber seu e-mail anunciando novidades no blog. Como se precisasse convidar... porque eu vivo dando uma passadinha por aqui para ler e reler suas preciosidades.
Lendo suas experiências, narradas de maneira tão linda e sensível, vou me enchendo de coragem e sonhando no momento em que terei minhas próprias impressões acerca da maternidade.

Um grande beijo, Bibi. Para ti e para a linda Lara.
Obrigada por compartilhar tudo!

Elys :D

Anônimo disse...

Oi, linda!
Que BELA crônica essa, me fez lembrar a mesma impressão que tive quando meu sobrinho nasceu, hehehe!
:o)
Queria encontrá-las entre hj e amnhã, vou ligar mais tarde.
Mtos bjos e saudades!
:o*
:o)

Anônimo disse...

Denise, ela não é um encanto???? (Mãe boba)...Obrigada!
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Pati, não me canso de agradecer!! Assim vc me incentiva e muito! Beijos
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Elys, muito lindo o seu recado, me emocionei aqui. Vá se enchendo de coragem mesmo, porque é MUITO BOM! Conta comigo sempre.
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Beta, eles são minúsculos, né? hehe. Me liga então. Beijoca.